Bachelard – O mundo científico é uma escola

Excertos de G. Bachelard, A atividade racionalista da física contemporânea

Como não inscrever doravante na filosofia fundamental do pensamento científico, na sequência de seu estatuto intersubjetivo, seu inelutável caráter social? Pois enfim, esta essencial pluralidade dos pensadores de um pensamento científico determinado, aí está, como diz o poeta, a expressão do homem “na milésima pessoa do singular” , aí está uma geração de cientistas unificada na singularidade de uma verdade novíssima, na facticidade de uma experiência desconhecida das gerações anteriores. Parece que o caráter social das ciências físicas se designa precisamente pelo evidente progresso destas ciências. O trabalhador isolado deve confessar “que não teria encontrado isso sozinho”. Este progresso dá a essas ciências uma verdadeira história de ensino cujo caráter social não pode ser ignorado. comunhão social do racionalismo docente e do racionalismo discente que tentamos caracterizar em nossa obra anterior (trata-se do Rationalisme appliqué [Racionalismo aplicado]) dá ao espírito científico a dinâmica de um crescimento regular, a dinâmica de um progresso certo, de um progresso confirmado psicológica e socialmente pela própria expansão das forças culturais. O homem hesita. A Escola — em ciências — não hesita. A Escola — em ciências — leva de roldão. A cultura científica impõe suas tarefas, sua linha de crescimento. As utopias filosóficas, aí, não têm poder algum. O idealismo nada mostra. É preciso pôr-se na escola, na escola como ela é, na escola que ela se torna, no pensamento social que a transforma.