Dado que a verdade, aletheia, é o domínio comum dos modos de desvelamento seja da poiesis, seja da Ge-stell, seja da produção seja da com-posição, o homem não saberia desvelar aquilo que é sem aí ter sido previamente convocado. Nenhum desvelamento se dá se não aquele originário da co-pertinência do homem ao des-encobrimento em si, que deste modo o põe a caminho1) para o lugar de seu desvelamento. E se “o desencobrimento do que é e está sendo segue sempre um caminho de desencobrimento”2, como alcança-lo sem estar já em seu movimento?
Cada modo de desvelamento, a produção ou a com-posição, é um pôr a caminho do destino pelo qual o homem é regido, posto que este “encaminhamento” responde ao apelo da verdade do ser donde o homem tem seu ser. Mas não se trata de uma fatalidade nem de uma imposição, ou do determinismo tecnológico tão afirmado hoje em dia. Trata-se daquilo que mais se aparenta com a liberdade, dado seu parentesco íntimo com o des-velar que vela, ou o re-velar que vela. “Todo desencobrimento pertence a um abrigar e esconder. Ora, o que liberta é o mistério, um encoberto que sempre se encobre, mesmo quando se desencobre”3.
A essência da técnica como destino de des-velamento, seja na produção seja na composição, ex-põe o homem a um constante risco. Maior ainda na época da técnica moderna, quando o ser do ente se destina sob o modo do Ge-stell, da composição. Ao des-velar o ente como objeto, o homem des-vela-se como sujeito e assim se diferencia e se distancia do ser do ente, enquanto se aproxima de sua entidade, para dis-ponibiliza-la para exploração.
A essência da técnica moderna põe o homem a caminho do des-encobrimento que sempre conduz o real, de maneira mais ou menos perceptível, à dis-ponibilidade. Pôr a caminho significa: destinar. Por isso, denominamos de destino a força de reunião encaminhadora, que põe o homem a caminho de um desencobrimento. É pelo destino que se determina a essência de toda história. (HEIDEGGER, Martin. Ensaios e Conferências. Trad. Emmanuel Carneiro Leão, Gilvan Fogel e Marcia Sá Cavalcante Schuback. Petrópolis: Vozes, 2002, pág. 27 ↩
ibid, pág. 27 ↩
ibid, pág. 28 ↩