(Japiassu)
Em meu livro Francis Bacon: O profeta da ciência moderna (São Paulo, Letras & Letras, 1995), mostro que não podemos superestimar o pioneirismo de Bacon nem tampouco subestimar sua real relevância histórica de inovador. Ele surge, na aurora da modernidade, se não como um de seus criadores, pelo menos como seu profeta mais importante, como se arauto mais significativo, pois foi o primeiro a lançar as bases sobre as quais nasceriam a filosofia e a ciência modernas; o primeiro a propor um método susceptível de libertar o pensamento da esterilidade dos métodos escolásticos de pensar e a indicar as razões reais pelas quais devemos conhecer: dominar a Natureza pelo Saber, a fim de converter nosso conhecimento em algo útil e proveitoso para a vida dos homens. Se não foi um cientista propriamente dito, nem por isso deixou de elaborar uma rica teoria da ciência da Natureza, estando na origem de certa “filosofia do progresso” pela ciência e pela técnica. Ao conceber a filosofia de uma ciência que ignorava, procedeu a uma espécie de “revolução socrática”, libertando o conhecimento das especulações e das abstrações para circulá-lo diretamente à experiência. Seu novo método fez dele uma espécie de Júlio Verne epistemológico de uma civilização técnica e científica, de João Batista vindo preparar o terreno para a instauração da “boa nova”. “Quatro obstáculos principais impedem o homem, por mais erudito que ele seja, de ter acesso à verdade: a) o peso do costume; b) os preconceitos populares; c) a submissão a uma autoridade imperfeita e desprezível; d) a dissimulação de sua própria ignorância sob uma pomposa roupagem de saber”. Outros aforismos de Bacon: “a arte é o homem acrescentado à Natureza”, “não se domina a Natureza senão obedecendo-lhe”, “ciência e poder se correspondem”, “saber verdadeiramente é saber pelas causas”, “é nas fontes da luz natural que devemos buscar a ciência”; “deixemos de lado as filosofias abstratas e liguemo-nos às coisas”.