Fato

Excerto traduzido de J.G. Bennett, THE DRAMATIC UNIVERSE

Devemos usar a palavra «fato» para denotar o conteúdo de conhecimento tanto atual e potencial. O fato é portanto tudo que conhecemos e tudo que poderíamos conhecer. Fazendo uso da conexão que encontramos entre conhecimento e [[:functio|função]], a definição pode ser feita independente de nossa experiência privada. Se o conhecimento é o ordenamento da [[:functio|função]], e o fato é o conteúdo do conhecimento, então podemos dizer que ”fato é a experiência da ordem funcional”.

O fato é em dois respeitos mais pobre em conteúdo que a experiência. O conteúdo de consciência e compreensão não é fato, e mesmo nossa experiência de [[:functio|função]] é somente fato na medida que é reduzido à ordem e se torna conhecimento. No então, o conteúdo de todo conhecimento é o mundo do fato, e o que não é fato não pode ser conhecido ([[:Wittgenstein]]). A experiência nos ensina que nunca conhecemos um simples fato. A natureza da [[:functio|função]] é tal que é complexa e composta. O ”fato” é composto de ”fatos”, e cada experiência de ordem em qualquer escala é um fato atômico.

Os instrumentos pelos quais atingimos conhecimento do fato são vários. Eles incluem experiência sensorial, introspecção, memória, reflexão, inferência, imaginação, alucinação, e sonho. Mas todos os fatos, não importa como conhecidos, são sempre da mesma espécie.Um evento ontem é um fato na medida que inferimos da memória que ocorreu; nossa recordação do evento é outro fato porque poderíamos isolá-lo do primeiro. Em qualquer momento há fatos já completamente atualizados do passado, fatos nem curso de atualização, e há fatos com a potencialidade de atualização no futuro.

No «Domínio do Fato» há uma multiplicidade dupla. Há muitos conhecedores de fatos e há muitos fatos conhecidos. Nenhum conhecedor conhece todos os fatos; disto podemos estar certos. É também provável, mas não certo, que um sequer fato é conhecido de todos os conhecedores. Entretanto, o que é um fato para um conhecedor pode ser um fato diferente para outro ou mesmo não ser um fato em absoluto. Assim, com o fato sempre surge o problema da [[:communicatio|comunicação]].

Três condições devem ser preenchidas a fim de que um item de experiência possa ser qualificado para designação como fato:
*deve [[:experientia|ser experimentado]];
*deve [[:functio|ser funcional]] em caráter; e,
*dever [[:conhecimento|ser conhecido]].

O último requisito distingue o fato da [[:functio|função]] em geral e faz o fato relativo a uma experiência particular. Não é legítimo dizer «isso pode ser [[:functio|função]], mas não é [[:functio|função]] para mim»; mas é bastante legítimo dizer «tal e tal pode ser um fato, mas não é um fato para mim; pois não entrou na minha [[:experientia|experiência]] e não conheço».

Se, entretanto, digo «tal e tal é um fato mas não é importante», estou fazendo uma asserção que mais é do que factual — estou dando expressão a um [[:juizo|juízo de valor]]. «Importante» é uma palavra de valor e seu significado é relativo a um [[:estado|estado de consciência]]. Podemos facilmente verificar que nossos julgamentos da importância ou não importância de qualquer elemento da [[:experientia|experiência]] varia de acordo com nosso [[:estado|estado de consciência]]. Pouco tem a haver com o conteúdo funcional da [[:experientia|experiência]] ela mesma. Dificilmente há qualquer [[:functio|manifestação funcional]] que em um momento dado possa não parecer importante e em outro não importante. Devemos portanto concluir que os [[:valor|valores]] não podem ser conhecidos. Isto está em acordo com sua inscrição ao elemento de consciência em nossa [[:experientia|experiência]].