Dória: Adorno

Excertos de Francisco Dória, Dicionário de Comunicação

Theodor Wiesengrund-Adorno, sociólogo, musicólogo e pensador alemão nasceu em Frankfurt em 1903, e morreu na Suíça em agosto de 1969. Filho de pai judeu e de mãe corsa (seu nome de adoção é o materno, o que lembra as origens da família de sua mãe na antiga família nobre dos Adorni de Gênova), Theodor W. Adorno era aparentado, por via paterna, a Walter Benjamin. Adorno fez-se Privatdozent em Frankfurt em 1931; em 1933, por causa da ascensão de Hitler, e sendo meio-judeu, foge (juntamente com Walter Benjamin, Max Horkheimer e Herbert Marcuse) da Alemanha. Faz estágios por diversas universidades europeias, e acaba se instalando com Horkheimer e Marcuse nos Estados Unidos em 1934 (Benjamin se suicidou na Europa no início da década de quarenta). Com eles funda em Nova York o Institute for Social Research, iniciando uma colaboração de vinte anos de duração. Terminada a guerra, Theodor Adorno e Horkheimer voltam para a Alemanha em 1950 (Marcuse permanece nos Estados Unidos), assumindo o primeiro a cadeira de sociologia em Frankfurt. Adorno e Horkheimer constituem à sua volta um grupo de sociólogos e filósofos, entre os quais Siegfried Kracauer, Jürgen Habermas, e outros, que levam o nome de “grupo de Frankfurt”. As raízes do pensamento do grupo de Frankfurt se encontram em Hegel; suas principais análises se dirigem no sentido de uma crítica do racionalismo que domina a sociedade contemporânea e na advertência sobre os meios que tem esta sociedade de absorver e dominar pacificamente os movimentos de revolta que contra ela surgem. O racionalismo da sociedade contemporânea, que, para a maior parte dos pensadores atuais tem sua origem na passagem da Idade Média à Idade Moderna (entre os que sustentam esta posição estão figuras tão afastadas quanto o marxista Lukacs e o tomista Maritain), é rejeitado, por Adorno e Horkheimer), até a Odisseia e à estrutura dos mitos, onde os dois sociólogos vêm as características centrais da racionalização: o imobilismo e a repetição (o mito pressupõe uma certa visão-do-mundo — uma visão do mundo dogmática, fixada; a repetição ritualística associada ao mito é vista por Adorno e Horkheimer como análoga à repetição monótona das atividades dos operários numa linha de produção). Dos meios de absorver as discordâncias internas, o mais poderoso é a cultura de massa, que Adorno e Horkheimer mostraram ser criada por uma verdadeira indústria cultural. Um país avançado, como os Estados Unidos, não combate os hippies; ao contrário, cria lojas especializadas em roupas hippies, oferece-lhes lugares onde podem se reunir trezentas, quatrocentas, seiscentas mil pessoas para participar de um “festival hippie” na mais perfeita ordem e na maior massificação possível. Um terceiro conceito, tomado pelos membros do grupo de Frankfurt a Hegel, a noção de negatividade, serve para explicar, dentro de sua visão, as explosões de violência das sociedades avançadas: só uma contestação radical (totalmente negativa) pode se situar fora da influência da capacidade de absorção da sociedade contemporânea .

Em 1968 Adorno se viu apontado, na Alemanha, como um dos “teóricos” da agitação estudantil; ao contrário de Marcuse, sempre se negou a aceitar esta posição. Sua morte foi precedida bem de perto por violentos choques com o estudante de Frankfurt. Muito recentemente, Max Horkheimer, discutindo a questão de suas relações com Adorno, afirmou que se trata de um engano compreender-se num sentido estritamente social a noção de “negatividade”. Atribui Horkheimer a Adorno a pretensão de constituir uma theologia occulta, uma “teologia da negatividade” em seus ensaios, à maneira do misticismo judaico e do misticismo alemão do fim da Idade Média. Estas afirmativas de Horkheimer provocaram uma violenta onda polêmica. Sendo além de sociólogo um musicólogo de grande importância, Adorno se viu retratado por Thomas Mann no Doktor Faustus na pessoa do organista Wendell Kretschmar.