Thuillier (Implosion:411) – A ciência moderna é uma tecnociência

Thuillier, Pierre (1995), La Grande Implosion. Fayard, Paris, pg. 411

Galileu não foi apenas um professor, mas um engenheiro e até mesmo um inventor, reconhecido em ambas atividades.

A verdadeira missão de Galileu foi de aportar aos ocidentais a tecnociência da qual eles sonhavam desde muito tempo. A saber uma ciência destacada de toda perspectiva espiritual, puramente operatória, astuciosamente adaptada aos hábitos mentais e às necessidades materiais dos burgueses modernos.

Para disso se ter certeza, basta abrir a obra maior de Galileo Galilei aparecida em 1638: “Discurso a respeito de duas ciências novas”. Apresentados sob a forma de diálogo, estes discursos punham em cena três interlocutores dos quais um, Salviatu, representava Galileu ele mesmo. Eis como este personagem se exprimia desde o início da obra: “Que amplo campo de reflexão me parece abrir aos espíritos especulativos a frequentação assídua de vosso famoso arsenal, senhores venezianos, e particularmente o quarteirão dos trabalhos mecânicos. Todas as espécies de instrumentos e de máquinas aí estão com efeito postas em funcionamento por um grande número de artesão dos quais alguns, tanto pelas observações que seus predecessores lhes legaram quanto por aquelas que eles fazem sem cessar eles mesmos, aliam necessariamente a maior habilidade ao julgamento mais penetrante”. Galileu, de pronto, anuncia o tom: ele também, iria se esforçar por ter o espírito penetrante e utilizar ao máximo seus talentos de macânico-observador. Melhor ainda, a primeira das duas “ciências novas” que apresentou ao público era uma ciência de engenheiro tipicamente: a resistência dos materiais. Maurice Clavelin, historiador das ciências, notava oportunamente comentando este texto: “Presente no limiar da pesquisa, a técnica dela também é a conclusão normal”. Dito de outro modo, Galileu, se tivesse vivido no século XX, teria conduzido suas pesquisas no centro de pesquisa de uma grande empresa ou no escritório de estudos de um estaleiro naval. Ele cuidava, com efeito, de explicitar o interesse prático de seu trabalho sobre a resistência das vigas: “Vê-se assim como é possível diminuir de mais de 33 por cento o peso das vigas sem alterar sua robustez; o que nos navios de grandes dimensões, principalmente para suportar o convés, será de uma utilidade não negligenciável, posto que também em tais construções a leveza tem uma importância capital”.