“Calibrando” este modelo geral de um “Sistema de Informação”, sob a ótica de seu qualificador “Geográfico”, algumas considerações especiais podem ser desenvolvidas, no tocante, em particular, ao cenário nacional:

 

  • o ambiente social e político atual, o “ecotopo” típico do SIG, tem sido primordialmente ocupado por instituições públicas e acadêmicas, onde ainda mais se ressalta o teor social e político do SIG, com a necessária ênfase em questões relativas a Ética e a Democracia; a mundialização de uma ideologia da informação/informatização vem escondendo sob o manto de uma valorização exclusiva do núcleo tecnológico do SIG, o papel fundamental das demais entidades do modelo figurativo, especialmente a proporção de Geociências (enquanto teoria e práxis), imprescindível para a harmonia do modelo, e sucesso da empreitada SIG; empreitada em que sobressai muito mais sua constituição social, fundada na combinação de fatores culturais exógenos (especialmente a tecnologia estrangeira, prenhe de uma Weltanschauung e de uma decorrente abordagem metodológica) e endógenos, entre os quais se perfilam desde o imaginário nacional-desenvolvimentista até a indisponibilidade e o difícil acesso a dados sobre o país;
  • a organização, geralmente governamental, vive atualmente o desafio da privatização inconsequente, alimentada pela ideologia da perda de identidade do Estado e pela necessidade de se repensar a gestão democrática das instituições públicas; prevalecem, nesta conjuntura ideológica, os projetos com forte acento informacional (e, portanto, com uso intensivo de informática), que como caravanas atravessam os desertos em que vêm se transformando as instituições, se abastecendo aqui e ali de fundos e recursos nos oásis de financiamento nacionais e internacionais; uma empreitada do gênero SIG é impraticável em tais contingências, dada sua exigência de direção e continuidade de esforço;
  • qualquer problema/tarefa, neste contexto é definido de modo impreciso, dentro de projetos com preocupação maior no aporte de recursos tecnológicos, do que na pesquisa e desenvolvimento, no aprofundamento do conhecimento humano e sua projeção sobre Sociedade e Natureza; uma tipologia das problemas/tarefas, necessária para um melhor entendimento do SIG como também para sua direção e avaliação, fica o mais das vezes no campo conceitual;
  • a tecnologia, o núcleo tecnológico elementar do SIG, é geralmente ofertado no mercado de informática, como uma roupagem, uma fantasia a ser devidamente recheada pelo corpo de uma base espacial e de dados (e das demais entidades do modelo figurativo), quando então deixa entrever sua funcionalidade (oculta sob os comandos abreviados de seus menus ou de seus botões), sem, no entanto, deixar transparecer sua metodologia, quanto mais sua “ciência geoespacial”, a não ser após uma árdua e longa experiência em uso; a estratégia de marketing, da maioria das tecnologias ditas sig, encantam pela aparência de simplicidade, ao operar sobre demonstrações construídas sobre bases espaciais e de dados fictícias, ou hipotéticas, ou somente disponíveis em realidades totalmente distintas das encontradas em nosso país;
  • a pessoa, o ser humano, pedra angular do SIG, raramente é reconhecido e tratado como tal; sua capacitação, no sentido de seu ser-capaz de constituir e instituir o SIG “de dentro para fora” do próprio modelo figurativo quase nunca é considerado; apenas interessa sua habilidade, se tanto, na interação com a tecnologia, geralmente objeto dos cursos oferecidos pelos fornecedores de produtos ditos sig; esta “re-habilitação” da pessoa, como se fosse uma máquina a ser re-ciclada, se reduz a uma espécie de treinamento sobre a tecnologia, que mais se assemelha a um adestramento, a um repertório de procedimentos do tipo pavloviano (ação-reação), determinando apenas a interação operacional da entidade pessoa com a entidade alavanca (tecnologia), do modelo figurativo.

Natureza do SIG