Para esta revolução é preciso, segundo o cientista político Lucien Sfez (1994), enfrentar três atitudes de pensamento que se inscrevem de forma insidiosa na Sociedade atual, se justapondo progressivamente, para “re-produzir” e “super-valorizar” de forma incondicional a mencionada Natureza Terceira:
- a primeira atitude é aquela que favorecendo o discurso da razão instrumental; predomina onde o homem livre diante da tecnologia que criou, a utiliza como uma ferramenta: com a tecnologia o ser humano desempenha as tarefas que determina, permanecendo “senhor e mestre” das atividades das quais concebeu o modo de realização eficaz e eficiente; esta atitude esquece que o aparato, o engenho, o instrumental, é na verdade a ponta de um iceberg, sua sombra se estende além de sua materialidade física, e seu papel de mediador entre pessoa e problema/tarefa acentua o peso da representação que impõe, como interface com a “realidade”;
- a segunda atitude se manifesta quando, pela adoção contínua, o instrumento se torna familiar; se molda um contexto “natural” que passa a compor com o ser humano uma “estrutura orgânica”, na qual a tecnologia está no mundo, e este através dela é conhecido, partilhado e vivenciado; desta forma, o aparato tecnológico que sustenta a Natureza Terceira, conduz ao declínio do espaço real, de toda extensão, em prol da telepresença, daquilo que o filósofo Paul Virilio (1993) denomina “a intrusão intra-orgânica da técnica e de suas micro-máquinas no seio do vivente”;
- a terceira e mais recente atitude, se revela pelo inconteste domínio do discurso da técnica, regendo uma visão do mundo, criando uma subjetividade individual e social, a nível de sua própria identidade; a Creatura do Dr. Frankenstein, como toda a sua história, retratam muito bem, embora de forma alegórica, este duplo de espaço social e natural, que vem sendo construído por sobre as tecnologias da informação.
Em uma brilhante análise, Lucien Sfez intitula esta última fase de “tautismo”, uma combinação de tautologia e autismo: um universo em que tudo é informação e comunicação, sem que se saiba a origem e a natureza da informação, sem que se possa determinar seu emissor legítimo ou seu receptor pretendido, o mundo técnico ou nós mesmos, nesse universo sem hierarquias, salvo emaranhadas, tanto a informação como a comunicação constroem sua própria auto-destruição, ou seja, pela sobrecarga e pelo excesso, ambas se desvanecem numa interminável agonia de espirais.
Referências: