Há um processo em curso que faz com que a representação da linguagem não seja determinada a partir dela mesma, do falar um com o outro, mas sim pela maneira como o computador fala e calcula isto. A equiparação da linguagem com o computador. Este destino da Física, que chegou agora à Física Nuclear, inquieta os pensadores entre os físicos, visto que eles veem que o homem, colocado neste mundo construído pela Física Nuclear, não tem mais acesso ao mundo. Agora só continuam acessíveis a calculabilidade e o efeito. Nesta situação tentamos nos ajudar, por exemplo, com a palestra que Heisenberg fez sobre Goethe e as ciências naturais modernas. Ali ele procurou algo totalmente insustentável, ou seja, mostrar que aquilo para o que se dirige a Física, isto é, a fórmula universal, a recondução a um princípio simples, corresponderia ao fenômeno originário de Goethe ou às ideias platônicas. Heisenberg não reparou que uma fórmula matemática, por mais simples que seja, é algo fundamentalmente diferente do fenômeno originário de Goethe. Mas o problema de Heisenberg é ainda maior, ele não consegue colocar a sua Física em relação vital com o homem. Outros físicos ligam a ciência à fé.
Falar é dizer = mostrar = deixar ver = comunicar e ouvir de modo correspondente, subordinar-se e adaptar-se a uma exigência, corresponder. (Heidegger, 1987/2001, pág. 228, grifo meu)
“Como o computador fala e calcula isto” é a redução à sintaxe e ao poder operatório do algoritmo em sua presunção de enunciar sentido. Fica-se apenas com o lógico, os símbolos matemáticos e as regras de relação válidas para os entes matemáticos, enquanto representações do que de razão e de memória se pode codificar em algoritmos operando sobre dados simbólicos.
Na Metafísica moderna, a esfera da interioridade invisível se determina como a região da presença dos objetos calculados. Esta esfera, Descartes a caracterizou como consciência do ego cogito.
Quase ao mesmo tempo em que Descartes, Pascal descobre, antítese da lógica da razão calculante, a lógica do coração. O interior e o invisível da dimensão do coração é não somente mais interior que a interioridade da representação calculante – e, por isto, mais invisível – mas leva ao mesmo tempo mais longe que a região dos simples objetos produtivos. (…) No interior desta consciência incomum reside um espaço intimo no interior do qual, para nós, toda coisa superou o numérico do cálculo, e pode assim, livre de limitações, se expandir no todo sem entraves do aberto. Tal supérfluo sobre-numérico nasce, quanto à sua presença, na interioridade e invisibilidade do coração. (Heidegger, 1949/1962, pág. 367-368)
Com a informática, impulsionada pela informatização, a questão do sentido do ser proposta por Heidegger desde “Ser e Tempo” torna-se ainda mais vital à superação da metafísica. O sentido do ser daquilo que é, o sentido do ser do ente, e agora o sentido do ser do ente informacional é a questão premente desta “Era da Informação”.
Para Marc Richir (1990, pág. 9), “o Dasein, sempre ex-stasiado ao sentido, não dispõe de sentido a seu bel prazer, não é o mestre do sentido, este está dissimulado em suas profundezas insondáveis”. Posto deste modo, a determinação do sentido do ser daquilo que é, surge, enquanto determinação, de uma “instituição simbólica”. Entendida em sua generalidade como o conjunto coeso de sistemas simbólicos (línguas, práticas, técnicas e representações) que codificam o ser, o agir, as crenças e o pensar dos homens, sem que estes decidam; como o “já dado” de antemão (Richir, 1996, pág. 14).
Sendo assim é urgente pensar a essência da informática e o processo de informatização, face às mudanças em curso na instituição simbólica contemporânea, quando a técnica moderna alcança seu ápice no engenho de representação. Quando a essência da técnica moderna, a Ge-stell, vislumbrada por Heidegger há meio século atrás, se manifesta em todo sua resplandecência e plenitude no dar-se e propor-se da informática em cada situação individual, e na informatização galopante da humanidade.
Referências:
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RICHIR, M. La crise du sens et la phénoménologie. Grenoble: Millon, 1990.
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