O movimento da Cibernética foi marcado pelo selo da lógica matemática desde sua origem. Seu principal pensador, Norbert Wiener, tendo estudado em Cambridge com Russell, afirmava categoricamente que o mesmo impulso intelectual que levou ao desenvolvimento da lógica matemática, conduzia ao mesmo tempo à mecanização ideal ou real dos processos do pensamento. Da mesma forma, é possível identificar nos demais fundadores do movimento, a primazia de uma visão do mundo centrada na lógica matemática, seja em suas formações ou em suas posições a partir da constituição do movimento.
Fundamentados na lógica-matemática, todos esses pioneiros teóricos da informática militavam dentro de um enfoque que buscava reconhecer no ser humano e nas coisas, uma espécie de “ente informacional”, como já denominado anteriormente. Ou seja, esperavam descobrir um ente de natureza informacional, transparente e racional, que se destacaria de um fundo de ruído (“diabólico”, segundo Wiener).
Este modelo informacional, sobressai particularmente no pensamento de Norbert Wiener, que se empenha em operar uma separação bem nítida entre a dimensão informacional, única essencial para ele, e os suportes materiais, secundários e sem importância. Wiener chega mesmo a imaginar e propor, já nesta época, que este modelo poderia se “materializar” em uma máquina computacional, e até mesmo ser transmitido como uma mensagem entre máquinas (Breton, 1995).
Os caminhos da lógica e da teoria da informação se entrecruzam antes mesmo de suas formalizações modernas, quando então se interligam ainda mais, através dos conceitos de operação e de codificação. Com efeito, após Leibniz, e mais intensamente ainda após Frege, a lógica começa a se aprisionar dentro de uma visão que prima pela otimização da codificação, e que tende a produzir uma linguagem monosêmica, instrumento ideal para informatização.
Quanto ao conceito de “operação”, deve-se partir da assertiva de Shannon, de que informação é aquilo que permanece invariante sob todas as codificações ou traduções que podem ser aplicadas às mensagens produzidas por processos. Ou seja, dado um tradutor que opera sobre uma mensagem, se a tradução é reversível, sua saída contém a mesma informação que a sua entrada. A informação é, portanto, o que permanece invariante por uma série de operações reversíveis. Deste modo, a comunicação passa a ser um caso particular do cálculo: uma série de operações cujo sentido pode ser invertido de tal forma que os dados iniciais possam ser reencontrados.
Como foi dito, a lógica matemática foi revitalizada por uma associação à teoria dos autômatos, pela Cibernética e pela Teoria da Informação. Wiener afirmava que a ciência de hoje é operacional, ou seja que ela considera cada proposição como essencialmente referente às experiências possíveis ou aos processos observáveis. Desta maneira, o estudo da lógica deve reduzir-se ao estudo da máquina lógica.
A cibernética fixa três conceitos fundadores de sua aplicação: sistema, feedback (retro-alimentação) e informação codificada. O conceito de sistema como uma caixa-preta que admite entradas dando em resposta, saídas. Entradas e saídas como mensagens codificadas, em uma linguagem reduzida que a caixa–preta “entende”. A retro-alimentação, por sua vez, é que garante o controle do processamento das mensagens em saídas, introduzindo mais uma informação no sistema, o seu estado a cada instante.
O já citado artigo de Wiener de 1943, fundador da Cibernética, é exemplar a este respeito, ao adotar uma leitura dos fenômenos, como “caixas-pretas”, onde se privilegia a lógica do fenômeno, passível de se depreender a partir de uma análise da estrutura de comportamento expressa no próprio fenômeno; de sua funcionalidade, refletida nas relações entre entradas e saídas. A essência de um fenômeno qualquer seria, portanto, a organização dos cálculos entre informação aferente e informação eferente.