A virtualidade do sig, como diz Pierre Lévy, vai aos poucos se atualizando pela interação com seus usuários. É como se o sig guardasse em si certa ordem de fertilização, de gestação e de manifestação, que vai aos poucos se manifestando através de sua alimentação e de sua comunicação com seus usuários.

Uma vez iniciado o processo de fertilização do sig, pelo carregamento dos dados nos formatos exigidos, segue-se o processo de gestação, pela articulação progressiva dos dados das bases digitais de coordenadas e de atributos georeferenciados. Com o tempo, surgem os primeiros sinais de manifestação do SIG, através das análises e dos resultados, geralmente em forma de cartogramas. Esta manifestação é regida por ordens, latentes no sig, que determinam cada passo do projeto, cada ação das pessoas, cada inclusão dos demais ingredientes para constituição do SIG. Tudo sempre dentro das configurações requeridas pelo sig.

Pela modelagem, carregamento e manutenção de uma base digital de coordenadas de objetos espaciais e de uma base digital de atributos georeferenciados a estes objetos espaciais, vão sendo habilitadas as funções ofertadas pelo engenho de representação e de análise ofertado pelo pacote, ou seja, vão sendo atualizadas as virtualidades do sig. Estas funções por sua vez, capacitam seus usuários com métodos e técnicas de análise geográfica, e garantem uma variedade de aplicações possíveis.

Encantados com o crescente poder computacional à sua mão, os usuários do sig se deixam guiar por suas virtualidades que vão sendo atualizadas, à medida que as bases digitais crescem em diversidade de dados, e também em integração entre estes dados. As inúmeras opções de tratamento de dados e de apresentação de resultados, do engenho de representação e de análise do sig, facilmente acionadas a qualquer momento, seduzem o usuário e acabam, muitas vezes, comprometendo ainda mais a proposta e a metodologia definidas na origem do projeto de pesquisa.

Percebe-se assim um desenvolvimento sistemático e ordenado, comandado e gerido por um único ingrediente, o sig. Como agente ordenador e catalisador de todo o projeto de pesquisa, o sig acaba por determinar, muitas vezes, as formas de instituição e de constituição de um SIG, orientando até mesmo os resultados e conclusões do projeto de pesquisa que o adotou. A estranha relação entre pessoa-computador, já mencionada anteriormente, é em grande parte a causa desta enorme distorção: a alienação e o distanciamento em face à informática, de grande parte dos pesquisadores, facilitam a autonomia desta, e até mais, seu imperialismo metodológico.

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Murilo Cardoso de Castro