Na análise que se segue, foram eleitas duas vertentes marcantes na própria história da Ciência Moderna, com reflexos diretos sobre o discurso geográfico contemporâneo, face o Sistema de Informação Geográfico. A primeira vertente, em concordância com a ideia que, desde sua origem na Modernidade, privilegiou a identidade de uma ciência através de seu objeto de estudo; circunscrevendo saberes segundo perspectivas a priori sobre a “realidade”.

No caso da Geografia, após diferentes ensaios de formulação de seu objeto de estudo, tem prevalecido a seguinte proposta, enquanto delineador de um domínio, de um campo, e fundador de um ideário: estudo da relação ou das relações Sociedade e Natureza.

Em consonância com o objetivo desta teoria do SIG, entende-se que o qualificador “geográfico” como que sufixado ao título “Sistema de Informação” só pode ter algum sentido, através da clara associação de sua “razão de ser”, enquanto pretenso instrumental da Geografia, com o “objeto de estudo” desta ciência. Foi com este propósito e dentro dos limites de uma perspectiva “tecnológica”, que se ousou partir nesta arriscada especulação sobre o objeto da Geografia, questão que até para um geógrafo de formação e profissão, representa um dos mais difíceis desafios.

A segunda vertente a ser percorrida, privilegiando, por sua vez, uma definição de ciência com base no “método” adotado e, por conseguinte, determinando a forma de apresentação dos resultados, exaltou, no caso da Geografia: ora uma forma discursiva, herdada da cultura latina impressa no pensamento ocidental, com forte orientação das antigas ciências do trivium (linguagem, retórica e lógica); ora uma abordagem iconográfica (pictórica, geométrica e simbólica), expressa por meio de mapas, fundamentada nas antigas ciências do quadrivium (matemáticas, geometria, astrologia e música, particularmente as primeiras), assistida pela técnica e pela evolução acelerada da tecnologia nestes últimos séculos; ora uma combinação das duas formas, discursiva e iconográfica.

Da mesma forma que na primeira vertente, se reconhece o imenso espaço de saber que se descortina ao avançar por essa segunda vertente, e a audácia, neste caso, reside em restringi-lo a termos conhecidos, ou seja, o “jogo de linguagem” que se estabelece com a informática, enquanto tecnologia da informação, que se arvora a se imiscuir no próprio método das ciências naturais e humanas, assim como na apresentação de seus resultados. Afinal de contas, uma ciência também precisa se preocupar com sua transmissão, com a comunicação das “informações” que sustentam e representam suas investigações.

Essas considerações servem de abre-ala para a questão se na tradução de GIS para SIG, deve o qualificador deste Sistema de Informação ser entendido como afirmando um sistema afim à Geografia ou pertencente à Geografia. Servem também para estabelecer se o qualificador geográfico se refere à “informação” ou ao “sistema de informação”. Nossa preferência recai sobre esta última opção por razões que se apresentarão a seguir.

Natureza do SIG