Uma possibilidade aventada anteriormente seria do qualificador “geográfico” ser apenas um atributo determinante da “Informação” reunida sob o “Sistema de Informação”. De fato, cabe a questão se, dado o apriorismo da categoria espaço na identificação de qualquer fenômeno, segundo Kant, seria possível uma informação que não pudesse ser “georeferenciada”, mesmo que de forma obliqua?

Talvez se esteja radicalizando muito ao se afirmar que toda informação pode ter um atributo geográfico, e, portanto, ser qualificada como “geográfica”, até porque, é preciso discriminar melhor a categoria “espaço” de Kant e a categoria “geográfico”. Entretanto, tanto a injunção de Carl Ritter, de que “a Geografia deve estar dimensionada para regular o fluxo de dados que a transborda e de o canalizar para fertilizar o conjunto de seu domínio” [apud Morlin, 1995], assim como a formulação sucinta do geógrafo Georges Nicolas-Obadia (1984) de que “o objeto geográfico é um par indissociável entre uma informação e um lugar”, parecem sinalizar que não se deve estar cometendo um grande exagero ao se considerar tautológico o qualificador “geográfico” de uma “informação”.

No entanto, o destaque especial dado a este atributo tautológico da informação, congregada e estruturada em um SIG, indica que existe algo de muito específico em relação à informação tratada por este tipo de “Sistema de Informação”. Por essa razão, Michel Didier (1990), antes de desenvolver, em seu livro, uma extensa análise sobre a utilidade e o valor da chamada “informação geográfica”, propõe uma redução de seu conceito, segundo uma definição precisa de sua natureza, de seu objeto e de seus usos, que deveria incluir “todas as representações da disposição e da configuração do território”.

Supondo que estas representações podem adotar diferentes formas ou “vestimentas” , a proposta de Didier não parece oferecer uma redução significativa no escopo do que se denomina “informação geográfica”. De fato, a conceituação formulada por Didier, deixa ainda mais em aberto a questão vital desta dissertação sobre a natureza do SIG ou do SIG, pois até uma biblioteca especializada em Geografia poderia, segundo os critérios sugeridos por ele, ser classificada como um “Sistema de Informação Geográfica”.

A dificuldade encontrada anteriormente ao se tentar “de-finir” o termo “informação” parece ser co-extensiva a todo e qualquer qualificador que lhe seja atribuído, quanto mais se este qualificador for um atributo ao mesmo tempo transcendente e imanente ao próprio termo, ou seja, uma categoria de pensamento que lhe confere, em maior ou menor grau, as bases de seu “ex-istir”, de seu “estar (ser) fora”.

Um “Sistema de Informação” que só se limite a tratar de uma classe bem definida de “informações”, e que pretenda denotá-lo por um qualificador aplicado ao termo “informações”, corre sério riscos de não estar especificando nada ou, de qualquer forma, tornando muito vaga sua “especificidade”, quanto mais se o qualificador utilizado for “geográfico”.

Uma certa intuição intelectual, cultivada atualmente pela frequente referência ao termo “Sistema” , quando se faz qualquer referência a algo “prenhe” de informática, pode garantir a transmissão da noção de que se trata de algo que faz uso da informática. Da mesma maneira, a referência ao termo “Informação”, pela maciça promoção das tecnologias da informação, é mais um adendo à forte conotação de que se trata de um “objeto” altamente correlacionado com a informática.

No entanto, a partir destas conexões hermenêuticas, um qualificador a mais, que denote de alguma forma a natureza do objeto, atribuindo-o a um domínio de pensamento ou de atividade humana, merece um cuidado especial se o qualificador se aplicar ao termo:

• “Sistema”, onde se precisa enfrentar conscientemente os perigos que rondam toda associação com um processo de informatização “transviado”, que pode vir a ser pernicioso para a Sociedade e para a Natureza, e também para sua relação;

• “Informação”, que por sua própria “insolvência” comunicativa, estaria transpondo para o qualificador essa característica que resulta em uma mínima compreensão do que se está falando, ou seja, no fundo fica sem resposta a pergunta “que sistema é esse?”.

Referências:

MORLIN, E. Penser la Terre: stratèges et citoyens : le réveil des géographes. Paris: Ed. Autrement, 1995.
DIDIER, M. Utilité et valeur de l’information géographique. Paris: Economica, 1990.
NICOLAS-OBADIA, G. L’espace originel: axiomatisation de la géographie. [s.l.] P. Lang, 1984.

Dissertação de Mestrado (UFRJ, 1996):

CASTRO, M. C. DE. Natureza do Sistema Geográfico de Informação. Dissertação de Mestrado. Rio de Janeiro: UFRJ-PPGG, 1996.

Natureza do SIG