Nem a lógica dedutiva nem a indução ocorrem na lista de [wiki]Alistair Crombie[/wiki]. Que estranho, não são elas ditas a base da ciência? É instrutivo que nenhuma lista como a de Crombie fosse incluir-las. A ausência delas nos lembra que os estilos de raciocínio criam a possibilidade de verdade ou falsidade. A dedução e a indução meramente a preserva.

Agora entendemos a dedução como aquele modo de inferência que preserva a verdade. Ela não pode passar de premissas verdadeiras para uma conclusão falsa. A natureza da indução é mais controversa. Essa palavra tem sido usada de muitas formas. Há uma importante tradição representada igualmente pelo filosofo [wiki]C. S. Peirce[/wiki] e pelo estatístico [wiki]Jerzy Neyman[/wiki]: a indução é aquele modo de argumentar que preserva a verdade na maior parte do tempo.

A dedução e a indução foram importantes descobertas humanas. Mas elas representam um papel pequeno no método científico, um papel que não é maior do que o do outrora reverenciado silogismo. Elas são dispositivos para se saltar de verdade em verdade ou da verdade para a verdade provável. Não apenas elas não nos darão qualquer verdade contingente original a partir da qual saltar, como tomam por assente a classe de enunciados que afirmam possibilidades de verdade ou falsidade. É por isso que não ocorrem na lista de Crombie. Tanto na dedução quanto na indução, a verdade representa o papel puramente formal de uma argola de um ábaco. Não importa o que é a verdade quando empregamos a mecânica da teoria dos modelos dos lógicos modernos. O maquinário deles funciona bem, contanto que suponhamos que a classe de enunciados que têm valores de verdade já é dada. (Ou, no caso da lógica intuicionista, que suponhamos que a classe de enunciados que podem, por meio de demonstração, adquirir valores de verdade já é dada.) A indução assume igualmente que a classe de verdades possíveis é pré-determinada. Os estilos de raciocínio do tipo descrito por Crombie fazem algo diferente. Quando passam a existir, eles geram novas classes de possibilidades.

HACKING, I. Ontologia Histórica. São Leopoldo: Editora Unisinos, 2008.

Ian Hacking