Uma cidade é um ajuntamento durável e relativamente denso de população num espaço circunscrito: outrora muralhas separavam-na do campo, depois da transição dos arrabaldes; atualmente, os seus limites são muito mais indecisos, obrigando o geógrafo e o sociólogo a complicar a sua nomenclatura: centro, periferia, subúrbios, zona “urbana” (ao mesmo tempo cidade e campo), cidade satélite, megalópole, bairro de lata, etc. (Bastié, Dézert 1980). A cidade na sua forma tradicional já não é mais que uma malha, um nó do tecido urbano.
Densidade de população significa geralmente (mas nem sempre) acentuação da divisão do trabalho, complexidade e complementaridade das funções econômicas e das ocupações profissionais, diversificação dos estatutos sociais e das relações de classe, acompanhadas muitas vezes de fortes clivagens – ou até de “lutas urbanas” – entre o povo “gordo” e o povo “magro”, entre o poder e as minorias ativas. Predominando a urbanização (que quer dizer proliferação do tecido urbano e aumento da sua densidade média, especialmente em favor das grandes cidades) no séc. XX mais ainda que no séc. XIX, o sociólogo é tentado, por um lado, a medir o seu impacto sobre as outras dimensões da vida social (economia, migrações, progresso técnico, estabilidade política, religião, etc.) e, por outro lado, adotando a postura inversa, a considerá-la não já como a causa mas como a resultante desses mesmos fenômenos sociais. Nasceu dessa dupla preocupação uma literatura considerável (M. Halbwachs, P. Geddes, W. Sombart, M. Weber, G. Simmel, R. Park, E. Burgess, etc.). Mantém-se largamente descritiva com dificuldade em delimitar o seu objeto: é, de fato, o conjunto do funcionamento social que se pode qualificar de “urbano” nos grandes países industriais, onde o rural tende a reduzir-se e a encolher-se irremediavelmente. Por isso, parece realista atribuir um campo mais restrito à sociologia urbana, limitando-a ao estudo dos atores sociais (a sua origem, as suas atitudes, os seus comportamentos, etc.) que desempenham um papel direto na elaboração, funcionamento e crescimento do tecido urbano. Nesta óptica, a maioria dos trabalhos publicados em França desde os anos 60 inspirou-se numa problemática marxista (Lefebvre 1968). Apresentando-se doravante a especulação predial e os investimentos imobiliários como um dos domínios mais remuneradores para o capitalismo bancário, o conjunto dos atores interessados pela explosão urbana sofreriam a influência, direta ou indireta, do capitalismo financeiro e das suas exigências, a todos os níveis da vida social: formação, carreira, ideologia, etc. (Castells 1972). Esta sociologia atribui um lugar central aos “movimentos urbanos”, nascidos das contradições geradas pela especulação urbana. O urbanismo, esforço racional para adaptar a cidade aos seus habitantes, sofreria igualmente o impacto da ideologia dominante.
A partir dos anos 80, este tipo de interpretação esbate-se. A sociologia urbana toma cada vez mais consciência da identidade dos desafios urbanos em todos os países industriais, capitalistas ou socialistas. Interroga-se com uma crescente inquietação sobre as dificuldades enfrentadas pelas cidades do Terceiro Mundo que conhecem uma demografia galopante. [DS]