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A palavra “crise” surgiu em francês no final do século XIV. Ela vem do latim medical crisis, emprestado do grego krisis, decisão, que vem do verbo krinein, discernir. Naquela época, a palavra crise era usada para se referir a um ápice na história de uma doença, um momento crucial ou ponto de inflexão que resultava em uma mudança repentina no paciente, para melhor ou para pior. Esse momento da doença em que a “crise” se manifesta é chamado de momento crítico (do latim crisimus ou mesmo criticus). Dificilmente esse é o sentido em que Sêneca o usa (Cartas a Lucilius, 83.3), porque a velhice, deve-se observar, não é uma doença, nem a perda dos primeiros dentes.
Entretanto, os romanos posteriores não usariam mais a palavra crise fora do campo da medicina. Em vez disso, para designar momentos decisivos nos negócios (rerum) ou na guerra (belli), eles usavam a noção de discrimen-inis, que deriva de crimen, ponto de separação, e deu origem aos termos franceses discriminant e discrimination. Inicialmente, a palavra “discriminação” refere-se à faculdade de discernir ou distinguir (sem a ideia de transformar essa distinção em uma preferência ou hierarquia qualitativa, ao contrário do que sugere a expressão “discriminação racial” ou a recentíssima “discriminação positiva”). Quanto a “discriminante”, que vem da mesma raiz, significa propriamente “que estabelece uma separação entre dois termos”. Derivada da mesma palavra latina discrimen, caráter distintivo, foi usada em álgebra para nomear a conhecida função dos coeficientes de uma equação de segundo grau, que permite discutir a equação e determinar se ela tem ou não soluções reais e quantas.
O ambiente semântico da palavra “crise” é, portanto, muito rico. Vamos estudar seus diferentes significados em relação a outros conceitos (conflito, transação) com os quais queremos compará-la.