(Alexandre Zinoviev, Les Hauteurs béantes, traduzido do russo por Wladimir Berelowitch. Lausanne: Éditions l’Âge d’Homme, 1977, pp. 82-3.)
Deixar-se guiar por regras de lógica sem suspeitar delas é impossível, por princípio, em razão da própria natureza dessas regras. E, por outro lado, a percentagem de operações lingüísticas feitas segundo as regras da lógica no total das operações lingüísticas é tão insignificante que os discursos a propósito de um estágio de pensamento supostamente lógico produzem um efeito puramente cômico. Na realidade, não é que os homens sempre utilizem as regras da lógica sem ter consciência delas, mas que, por assim dizer, eles não as utilizam. Tentem analisar os discursos dos políticos e dos juristas de um ponto de vista lógico e, para seu próprio espanto, vocês descobrirão, justamente, uma ausência quase completa de lógica, embora, em princípio, ela devesse ser o fundamento da reflexão desses homens. E a ciência? Ora, até uma das ciências mais rigorosas, a física, é arqui-repleta de uma porção de truques lingüísticos de charlatães. A atividade linguística dos homens é um caos, do ponto de vista lógico, e a irrupção da lógica dentro dela é uma tentativa insignificante, do ponto de vista de suas consequências, de introduzir ordem nesse caos. O esquizofrênico diz que está inteiramente de acordo. O caos lingüístico é a expressão exata do caos social. A prática lingüística dos homens é antilógica por princípio. A lógica é um dos meios utilizados pelo anti-social. A arma do social é a antilógica, que denominamos de lógica dialética, para melhor mascará-la. De modo que a lógica não é tão inocente quanto parece. Dia virá em que a lógica será uma fonte de dissabores, tanto quanto a política. Entre parênteses, o coeficiente de lógica praticamente independe do nível de instrução dos indivíduos e é inversamente proporcional à sua posição social.