LÓGICA MATEMÁTICA EM WHITEHEAD, DESVENTURAS PÓS PRINCIPIA

Barrett1978

Na filosofia de Whitehead, o papel da lógica matemática também não é decisivo e, em alguns aspectos, é ainda mais difícil notar sua presença. É verdade que em escritos posteriores ele emprega algumas das técnicas do Principia para elaborar suas ideias sobre espaço e tempo, mas as técnicas estão a serviço de uma intuição fundamental que faz parte de uma visão mais ampla do universo. E Whitehead insiste nessa visão mais ampla. Ele é um dos poucos filósofos de nosso tempo que defende a necessidade da filosofia especulativa e que desenvolve esse sistema de forma pessoal.

Aqui, “especulativo” significa exatamente o que a palavra diz. O filósofo busca uma generalização além dos limites da ciência; ele tenta desenvolver um sistema geral e coerente de ideias dentro do qual os resultados parciais da ciência sejam mais inteligíveis. Atualmente, essa tentativa não é popular, pelo menos entre os filósofos; por outro lado, alguns cientistas em um clima de celebração não desdenham de fazer incursões especulativas. Entretanto, Whitehead argumentou que não se aventurar nessas conjecturas racionais é frustrante para o intelecto humano. Isso embota nossa admiração pelo universo, por tudo o que existe e por Deus como a base da realidade entre o Ser e o Não-Ser. Removidos de tais questões, os horizontes da mente humana são restritos e diminuídos. Assim, seu entusiasmo impopular pela filosofia especulativa acabou sendo direcionado contra o domínio da técnica que ele havia ajudado a gestar. Suas palavras pouco antes de sua morte: “A decadência da filosofia especulativa é uma das doenças de nossa cultura”, foram dirigidas contra o positivismo estreito que, naquele período, se afirmava na técnica dos Principia.

Além disso, a premissa fundamental da filosofia de Whitehead é contrária à lógica que ele mesmo havia criado com Russell. Whitehead tem uma visão orgânica do universo. As partes de um organismo estão em uma relação interna recíproca dentro do todo. Suas conexões não são apenas externas, mas uniões íntimas entre elas. Entretanto, na lógica dos Principia, todas as conexões são “extensionais”: elas ligam os fatos externamente. Nessa linguagem, não se pode expressar a intimidade entre os fatos A e B além de dizer que A e B estão juntos. É possível afirmar sua coincidência, mas não sua inter-relação ativa. Whitehead nunca olhou para trás no espírito de uma crítica detalhada de seu trabalho com Russell. Ele procedeu filosoficamente como se a colaboração nunca tivesse ocorrido. Toda a sua filosofia posterior poderia ter sido substancialmente a mesma, mesmo que os Principia nunca tivessem existido.