CJ1992
A história da cartografia conquista assim, pouco a pouco, sua autonomia intelectual em relação à história da geografia e das explorações, assim como em relação aos modelos tradicionais da história das ciências, onde as etapas anteriores do saber foram frequentemente estudadas sob um ponto de vista finalista ou positivista. Ela se torna uma disciplina acadêmica e não se limita mais a círculos de colecionadores e amadores ilustrados, de sociedades e revistas eruditas, cuja vitalidade, sem dúvida, soube manter uma tradição de interesse e estudos sobre mapas antigos, mas às custas, por vezes, de uma miniaturização das pesquisas, de uma erudição factual privilegiando o detalhe em detrimento de questões fundamentais.
Os mapas antigos foram frequentemente o domínio predileto dos profissionais do mar, engenheiros navais e pilotos de longo curso, que direcionaram a disciplina para a história dos instrumentos de medida, das técnicas de levantamento e das rotas de navegação. Outros abordam a história da cartografia apenas do ponto de vista das "ciências duras" — astronomia, trigonometria, geometria. Em suas formas mais restritas, essa abordagem leva a isolar artificialmente um aspecto da atividade cartográfica, eliminando todas as determinações culturais, sociais, políticas e imaginárias que poderiam influenciar a objetividade, a suposta cientificidade do mapa. Os geógrafos interessados em mapas antigos adotaram por muito tempo uma abordagem referencial e positivista, que justificava julgamentos peremptórios sobre a exatidão topográfica dos documentos: denunciavam-se os erros, lacunas e mitos nos mapas antigos, sem buscar compreender sua lógica intrínseca, sem conceber uma distribuição diferente dos saberes e dos graus de racionalidade, sem pensar, enfim, na própria historicidade do mapa. Aí está, sem dúvida, o ponto cego de uma tradição historiográfica que projeta sobre os mapas antigos a norma implícita dos mapas modernos, com sua sobriedade e padronização gráfica, sua suposta adequação ao espaço representado, sua funcionalidade imediata. Para o geógrafo, não haveria solução de continuidade entre os mapas antigos e os atuais — todos pertenceriam ao mesmo tipo de leitura referencial, à mesma rigidez científica. A padronização e o primado da medida são as propriedades intrínsecas do "verdadeiro mapa", fora das quais só existiriam cartografias heréticas, subjetivas e ideologicamente deformadas.
Hoje, é preciso aplicar à carta as estratégias da "desconstrução" e romper esse vínculo coercitivo e exclusivo entre realidade e representação, que dominou o pensamento cartográfico e constitui a epistemologia implícita de sua história. Uma empreitada que esbarra em múltiplas resistências no meio profissional, tão arraigados são os modelos dominantes e as implicações de tal abordagem sobre o trabalho dos cartógrafos atuais: pois reconhecer a existência e a lógica das estratégias de poder e dos níveis retóricos na superfície dos mapas antigos é, por consequência, lançar suspeita sobre os mapas mais contemporâneos, que reivindicam uma objetividade e cientificidade totais. A ideologia, afinal, é sempre a dos outros...
Nos últimos anos, a história da cartografia tenta definir sua identidade no âmbito do renovado interesse pelas ciências humanas, paralelamente ao desenvolvimento de uma reflexão crítica e epistemológica por parte dos próprios geógrafos. A história da descoberta progressiva e do levantamento das diferentes regiões do globo, a busca pelas fontes de informação e pelos modelos, a datação e a atribuição dos documentos continuam sendo, sem dúvida, os objetos tradicionais da pesquisa, aos quais se soma agora um interesse renovado pelo contexto social (o meio dos cartógrafos, gravadores, impressores, livreiros, patrocinadores, usuários) e pela dimensão técnica do mapa. Este é percebido como um artefato, resultado de um conjunto de operações e escolhas gráficas (geometria, traços lineares, imagens figurativas, ornamentos, escrita), mobilizando códigos de representação que se organizam em uma verdadeira "linguagem" e induzem efeitos estéticos, intelectuais e imaginários particulares.
O padre François de Dainville, em um livro publicado em 1964, que seguia uma obra magistral sobre a geografia dos humanistas, renovou profundamente o campo, dedicando-se especialmente a definir todos os componentes da materialidade gráfica do mapa — seus traços, ornamentos, níveis de representação e estratégias de comunicação. Esse trabalho possibilitou os desenvolvimentos posteriores, como a semiologia gráfica de Jacques Bertin e as pesquisas da última década no campo da história da cartografia. Hoje, a história do livro, que conheceu avanços tão significativos na França, inspira novas formas de cartobibliografia, baseadas em grades de descrição minuciosa dos documentos — atlas ou mapas isolados — e de todos os sinais distintivos que permitem, por exemplo, diferenciar edições sucessivas, originais e plágios, a propagação das descobertas. Essa é uma etapa fundamental do trabalho, pois possibilita o inventário dos acervos cartográficos conservados em bibliotecas e, por vezes, coleções privadas, reunindo os materiais necessários para um estudo da difusão social dos documentos e de seu impacto na mentalidade e no imaginário dos usuários. Tais pesquisas permitem esperar desenvolvimentos promissores nos próximos anos: história das coleções, das redes e da economia dos mercadores de mapas, sociabilidade dos colecionadores, etc.
A história da cartografia assume a forma do dicionário ou da enciclopédia — duas maneiras de escapar do relato linear e cronológico clássico, com sua continuidade falaciosa e sua ilusão de um devir uniforme e coerente. Dicionários de conceitos, de componentes visuais do mapa, de seus instrumentos técnicos e de biografias de cartógrafos; enciclopédias, onde a produção cartográfica é reinserida em áreas socioculturais específicas. Essa última tendência marca, sem dúvida, o fim das grandes histórias clássicas da cartografia, que, na utopia da unidade de tempo e objeto própria a sínteses desse tipo, ocultavam frequentemente as divisões culturais, as falhas, as rupturas que fragmentam a continuidade histórica. Preocupa-se mais hoje com a especificidade cultural da produção cartográfica, com os laços que a conectam à estética, à sociedade e aos saberes de uma época e região definidas.
A Antiguidade greco-romana é um domínio que se beneficiou particularmente dessa mudança de perspectiva: historiadores e filólogos, dominando perfeitamente as fontes antigas e atentos a todo o ambiente cultural, político e conceitual da geografia, permitiram avanços decisivos nessa área, especialmente na França e na Itália. A cartografia medieval também é hoje objeto de pesquisas multidisciplinares, e os geógrafos ou historiadores da geografia são acompanhados por filólogos, especialistas na história e edição de textos, e por medievalistas, que dominam perfeitamente o ambiente religioso, cultural e imaginário dos mapas-múndi.