ETIMOLOGIA DE CARTA E MAPA

CJ1992

Se o próprio objeto pouco nos informa sobre sua identidade, a etimologia e o significado das palavras nos ajudam a descobrir o que é um mapa? O substantivo "carta", na língua francesa, está longe de designar de forma unívoca o mapa geográfico. A cada momento corremos o risco de confundi-lo com o baralho, o cartão de visita, o cartão de felicitações, a carteira de identidade ou o cardápio: trata-se, aliás, sempre da mesma "carta", pois a palavra designa um suporte, um material flexível sobre o qual se pode escrever. "Carta" vem do latim tardio carta, que por sua vez deriva do grego chartès, assim como o russo karta, o italiano carta ou ainda o inglês chart — este último aplicado apenas a cartas náuticas. Para os mapas que nos interessam aqui, é necessário especificar: "carta geográfica" (ou topográfica, geológica etc.), "carta da França" ou "carta de navegação", ou seja, determina-se a identidade dessa carta pelo nome da disciplina, pelo espaço que representa ou ainda pela atividade que possibilita ou pelas informações específicas que fornece. Para sermos completos, acrescentemos que um mapa também pode ser nomeado segundo seus produtores: a carta de estado-maior, a carta de Cassini, a carta do I.G.N.

Em inglês, "carta" diz-se map, e encontramos esse radical em polonês, espanhol e português. A origem de map é o latim mappa, que designa uma toalha de mesa ou ainda aquele pedaço de tecido que se lançava no circo para dar o sinal dos jogos. Trata-se, portanto, de um material, o tecido, ou seja, novamente um suporte. Em italiano, encontramos três termos para designar os mapas geográficos: mappacarta e piano. Na Grécia antiga, "carta" diz-se geralmente pinax. O termo designa a tabuinha (de madeira, metal, pedra), depois a "prancha" (no sentido bibliográfico, trata-se, portanto, de uma "folha" de papiro) na qual se grava, desenha ou pinta. Um pinax pode apresentar ao olhar uma inscrição alfabética (um texto, uma lista), figuras geométricas, um desenho figurativo ou uma pintura — essas diferentes formas de atividade gráfica coexistindo por vezes no mesmo suporte. Pinax está, assim, longe de designar o mapa geográfico de forma unívoca e ocupa uma posição análoga à da palavra "carta" em seus usos cotidianos: suporte sobre o qual se pode escrever, rabiscar, desenhar. À função geral de "suporte visual" do pinax (do prato no qual se servem as carnes aos convivas dos banquetes da Ilíada e da Odisseia, ao "quadro" exposto em uma parede), é possível acrescentar uma vocação mais particular: o objeto, em suas aplicações à escrita, serve frequentemente de suporte a listas (cronologias, listas de magistrados, de vencedores nos jogos pan-helênicos, listas de cidades, de países etc.). Ele tem, portanto, uma função mnemotécnica, que poderia ser um dos pontos comuns entre o pinax-tabuinha de escrita e o pinax-mapa geográfico.

A outra denominação grega do mapa é periodos, "circuito", sendo a fórmula usual periodos gês, "circuito da terra" ou "volta ao mundo". O que assim se designa é o objeto da representação, o contorno da terra, com uma conotação intelectual e metodológica — a forma circular da terra (e do mapa) sendo garantia de completude e ordem. O latim retoma o grego pinax ou sua tradução, tabula, e emprega a expressão orbis terrarum, ou forma orbis (terrarum), a palavra forma designando uma configuração visual que não é específica do mapa geográfico, enquanto orbis sugere a ideia de circularidade e completude. Itinerarium pictum e orbis terrarum depictus são designações perifrásticas que destacam o objeto e o meio da representação.

Também se pode designar o mapa por um termo genérico que remeta, de forma não unívoca, à natureza da inscrição que ele traz: assim, na cultura indiana, naqshah é o nome, de origem árabe, do mapa, mas designa também a imagem, uma descrição geral, um relatório oficial. Em chinês, tu designa o mapa, mas também qualquer tipo de desenho ou diagrama. O russo karta é muito próximo de kartina, que designa a imagem.

A dificuldade de dar um nome específico ao mapa encontra-se também na Idade Média. Enquanto os manuscritos medievais nos oferecem esquemas cartográficos, P. Gautier-Dalché observa que "a carta, enquanto tal, nunca recebe nos textos um nome particular, e parece mesmo que ela tenha sido percebida como um objeto complexo, difícil de descrever". Encontra-se um termo genérico, pictura, a imagem pintada. O termo mappa mundi, "mapa-múndi", aparece em 821-822 e "reinará quase sem concorrência durante mais de cinco séculos para nomear todos os tipos de mapas, e mesmo textos com conteúdo geográfico". Do termo latino mappa conserva-se sem dúvida a ideia de extensão mais que de uma matéria particular: os "mapas-múndi" são grandes cartas em pergaminho, destinadas a serem suspensas e usadas no ensino. Daí, o sentido estender-se às cartas desenhadas nas páginas dos livros manuscritos. Durante a Idade Média e o Renascimento europeus, o mapa também se diz imago ou descriptio. Svetlana Alpers comentou longamente este último termo, no qual reconhece um dos paradigmas da pintura holandesa clássica. Descriptio remete menos ao poder persuasivo das palavras que a um modo de representação pictórica e "gráfica", à "inscrição do mundo" no mapa ou no quadro.