CJ1992
O que podemos deduzir desse rápido exame lexical? O mapa não tem nome próprio. A metonímia é a regra para nomeá-lo. É o suporte que designa a inscrição, em um processo analógico que encontramos novamente com a palavra “tableau”. É o contexto e a capacidade intuitiva de interpretá-lo que nos permitem não confundir uma pintura impressionista com um quadro negro ou um quadro de avisos. De acordo com a lógica dessa derivação metonímica, o mapa passou a designar o gráfico que ele suporta, já no mundo grego, com o nome pinax. Foi o contexto, implícito ou discursivo, que se encarregou de esclarecer a ambiguidade entre todos os possíveis usos do termo. Desde muito cedo, o mapa também foi chamado de objeto gráfico, da mesma forma que um diagrama, um desenho ou uma página escrita. A imprecisão do termo revela a natureza sintética e sincrética do dispositivo formal que chamamos de mapa: pintura, geometria e escrita estão todas interligadas. O propósito de um mapa também é semelhante ao de um relatório oficial ou documento estatístico (ele pode descrever a situação econômica, fiscal ou demográfica de uma região, por exemplo): é um instrumento de gerenciamento e administração, da mesma forma que uma lista, um censo ou uma descrição econômica. Ele se destina a ser arquivado e é uma memória artificial, como as listas ou os catálogos. Em sua aparência estética, o mapa pode, como já dissemos, assemelhar-se a um diagrama geométrico ou a uma pintura figurativa, todas as outras manifestações de atividade gráfica, no sentido do verbo grego graphein.
A atual unificação e padronização do termo “mapa” e os nomes dos agentes envolvidos, “cartógrafo” e “cartógrafo”, nos fizeram esquecer um longo período durante o qual o objeto não tinha um nome específico. Certamente não se trata de usar esse vazio terminológico para concluir que o objeto em si não existe. Presente nas primeiras civilizações históricas (Egito, Assíria) e talvez já surgindo no final dos tempos pré-históricos, o mapa é uma forma gráfica entre outras. Sua distribuição limitada na sociedade, os círculos especializados que o produziam ou consultavam e sua finalidade cosmológica, filosófica, científica, religiosa e administrativa talvez expliquem o período durante o qual a metonímia oferecia um meio suficiente de designação, uma convenção operacional para aqueles que a utilizavam. Mas a singularidade do assunto aparece na impotência da linguagem, que, sem dúvida, trai os limites do pensamento. Para o historiador do mundo grego, por exemplo, é revelador que a imagem - eikon - e a geometria tenham sido objeto de elaboradas teorias, com grande refinamento terminológico e conceitual (Platão, Aristóteles, Euclides, etc.). ), enquanto os mapas geográficos existiam sem serem passíveis de descrição ou análise, pelo menos até o tratado de Ptolomeu (século II), quando, em um vasto movimento metafórico, a teoria da pintura e da geometria ofereceu ao cartógrafo seus conceitos operacionais.