*Bernard Stiegler. Être-lá-bas. Phénoménologie et orientation. (ALTER-EI)
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No Império dos mapas, tudo parece girar em torno da fenomenologia, e Jacob deixa isso claro: trata-se de tentar uma "fenomenologia da percepção cartográfica" (Christian Jacob, L’Empire des cartes, A. Michel, 1992, p. 143). Ele realmente a pratica, se não o tempo todo, e é isso que me interessa: é um contrato audacioso, porque a fenomenologia exige certas precauções e, além disso, também tem uma concepção do espaço e de sua constituição. Se Jacob sabe disso, não tenho certeza se ele pensa nisso, que não está tanto do lado de Merleau-Ponty e sua Fenomenologia da percepção quanto de Husserl, em uma de suas versões mais radicais — A Terra não se move — e, claro, no Husserl de A crise das ciências europeias e A origem da geometria, que Jacob não cita em nenhum momento, o que é uma pena.
O Império dos mapas afirma desde cedo que "o espaço não precede seu mapa" (Ibid., p. 50). Da mesma forma, Derrida pôde escrever que não há fala sem escrita, que a fala já é escrita. Há mapa muito antes do que chamamos de mapa no sentido restrito, assim como há escrita muito antes do que Rousseau, Hegel ou Saussure acreditam poder identificar como escrita.
A questão mais geral da grafia, que afetaria a constituição espacial como cartografia, remete, através de Derrida, à questão da retenção, do tempo, ou seja, também da memória, que ocupa justamente o lugar do último capítulo de O Império dos mapas, mas que é posta desde que se trata de relacionar o mapa e seu suposto "referente". Aqui, é preciso ler, além de Borges — junto com O Museu do rigor científico — Funes, o memorioso: só há abertura para um futuro por meio de uma seleção no presente que passa, uma seleção que justamente faz o presente passar como passado e, assim, como seleção, o cartografa. A memória, tal como não poderia ser a de Funes, que retém tudo — assim como o mapa em escala 1:1 do Império, que é inutilizável e não abre nenhum espaço, nenhuma possibilidade de orientação —, é em sua essência cartográfica. Em outras palavras, a orientação no espaço é comparável à orientação no tempo. A memória não pode, como a de Funes, reter tudo; ela é apenas esquecimento, assim como a cartografia da costa bretã é uma situação em uma escala de percepção-intelecção que também é um ser-no-mundo. E como diz Heidegger, em referência crítica a Kant, apesar da menção à direita e à esquerda em O que é orientar-se no pensamento?, orientar-se no pensamento é orientar-se em um espaço e um tempo (um passado) que devem ser pensados topicamente, como lugar ou situação, e não como res extensa ou pontualidade do agora. Como mundanidade do mundo e como ser-no-mundo do Dasein.
O mapa, diz Jacob, é a "materialização de uma ordem subjacente à aparência sensível mais do que a reprodução de um universo material dado como tal". É nisso que sempre há mapa, assim como sempre há escrita e sempre há esquecimento em toda memória, uma arquivação protética para que as coisas passem — o que chamo de finitude retencional. Disso resulta uma performatividade irredutível do mapa (O Império dos mapas, p. 351), que o pensamento positivista da cartografia, contra o qual Jacob luta admiravelmente, se esforça para eliminar — mas em vão.
Mais antiga também do que a separação entre imagem e escrita estaria, como inscrição e memorização, mas também como projeção do imaginário, essa materialização formal: a cartografia que Jacob pratica coloca a temível questão de uma gênese do ser-no-mundo. Referindo-se à fenomenologia, ele quer pensar o mapa segundo duas "linhas de força", salvando o fenômeno cartográfico, pensado a partir do par sujeito/objeto, de uma redução à sua pura adequação. No entanto, trata-se de apreender o mapa antes dessa divisão, a partir da mundanidade onde ele se constitui e da qual deriva: Jacob diz, de certa forma, que não há espaço fora do mundo e que não há mundo sem carne (no sentido husserliano ou merleau-pontyano). Veremos mais adiante que isso coloca uma questão sobre a deiticidade irredutível do efeito de real do mapa.
Jacob tenta, portanto, desvendar uma cartografia originária em que o espaço é pensado a partir da orientação, e não o contrário. É a questão do mundo na medida em que se pensa, a partir de um Dasein, uma tópica do espaço, e não, a partir desse espaço, aquele que nele se orienta: a orientação é mais antiga que os lugares por onde passa, que o espaço que percorre em seu tempo.
Jacob descreve, de fato, uma epoché originária no mapa da origem que seria a inscrição de Bedolina. Como mapa, ela já é uma colocação acima, uma espécie de desterritorialização: uma epoché da situação natural e, assim, uma espécie de pré-suspensão da tese do mundo. Diante desse proto-mapa, que também é um arqui-mapa, já estamos em uma posição de suspensão elevada, em suspensão, epoché do mundo e, ao mesmo tempo, constituição desse mundo, pois ela dá a possibilidade de orientação. Ela é uma espécie de epoché objetiva, tecnológica, da mundanidade, um defeito originário do território, pois o território só é acessível a partir de sua desterritorialização.
Do mapa da rocha, mais do que da própria rocha, já se acessa um "olhar absoluto". Harvey, em sua análise da foto aérea e do mapa (Ibid., p. 49), mostra que não é a foto aérea enquanto simplesmente fotográfica que é interessante — muito analógica e fiel para dar orientação, para dar o Oriente —, mas uma idealização essencialmente cartográfica realizada a partir dela. Não estaria já aberto, assim, o caminho para uma questão que leva às idealidades matemáticas — tal como Husserl as pensou em A origem da geometria? Isso se somaria, precedendo-as, ao polimento das formas, ao levantamento topográfico etc. (faz-se o levantamento para o mapa, esse é o papel do escritório de agrimensura), dos quais A crise das ciências europeias afirma que formam uma condição para o acesso às idealidades propriamente geométricas. Medir a Terra, avaliar a Terra: é nessa pré-ocupação técnica que se constitui a proto-geometria, segundo Husserl. Mas esse ponto de vista, tardio nele, coloca muitos problemas para a própria empresa fenomenológica (cf. sobre isso Técnica e tempo, tomo 2: A desorientação, Galilée, 1996).