KASTRUP (2020) – NOSSO PORTAL PARA O MUNDO

KASTRUP, Bernardo. Decoding Schopenhauer’s metaphysics: the key to understanding how it solves the hard problem of consciousness and the paradoxes of quantum mechanics. Winchester Washingtoen: iff Books, 2020.

  • Divisão schopenhaueriana das representações em categorias intuitiva e abstrata como fundamento da distinção entre percepção e conceitualização.

Definição das representações abstratas como construções conceituais formadas na mente do sujeito individual, constituindo o domínio do raciocínio e da elaboração intelectual.

  • Identificação das representações intuitivas — traduzidas por Haldane e Kemp como “ideia de percepção” — como expressões diretas da experiência perceptiva, ligadas à apreensão imediata do mundo exterior.

  • Explicitação de que a representação intuitiva “abrange todo o mundo visível ou toda a experiência”, estabelecendo desde o início a associação entre intuição e percepção consciente.

  • Interpretação do termo “experiência” em sentido restrito, como percepção sensível estruturada pela causalidade, instrumento cognitivo que organiza logicamente o campo de sensações.

  • Natureza e extensão da percepção em Schopenhauer como experiência que transcende os dados sensoriais brutos.

Reconhecimento de que a percepção, embora se origine da interação sensorial, inclui também as condições que possibilitam a própria experiência perceptiva, ou seja, o espaço e o tempo.

  • Acompanhando Kant, Schopenhauer afirma que espaço e tempo podem ser “percebidos por si mesmos”, mesmo na ausência de conteúdo sensorial, o que implica uma percepção interna e a priori da extensão espaço-temporal.

  • Postulação de que o sujeito, mesmo privado de estímulos externos, mantém uma forma de consciência perceptiva do espaço e do tempo, que precede e estrutura toda percepção empírica.

  • Descrição da estrutura espaço-temporal como arcabouço cognitivo inerente ao sujeito, sobre o qual as impressões sensoriais são projetadas e organizadas em imagens mentais coerentes.

  • Função causal e papel do entendimento na constituição da percepção enquanto processo cognitivo não reflexivo.

Inclusão na percepção do reconhecimento imediato de relações causais entre os dados sensoriais, condição sem a qual o mundo seria percebido como um fluxo caótico de estímulos desconexos.

  • Afirmação de que o entendimento — ou intelecto — é responsável por projetar estrutura sobre os dados sensoriais, convertendo-os em objetos compreensíveis e inter-relacionados regidos por leis causais.

  • Caracterização desse processo como cognitivo, mas não introspectivo, situando-se abaixo do nível da consciência reflexiva e operando automaticamente na formação das representações perceptivas.

  • Compatibilização dessa concepção com a psicologia contemporânea, segundo a qual a percepção envolve operações cognitivas implícitas, embora não deliberadas.

  • Diferença essencial entre representações perceptivas e abstratas segundo o critério da imediaticidade e da acessibilidade introspectiva.

Esclarecimento de que, embora ambas envolvam processos cognitivos, a percepção é imediata e autônoma, enquanto o pensamento conceitual é deliberado e acessível à introspecção.

  • Distinção estabelecida pelo uso schopenhaueriano do termo “imediato”, que designa operações mentais automáticas não submetidas à reflexão consciente.

  • Defesa de que não há confusão entre percepção e conceitualização, pois as primeiras decorrem do funcionamento espontâneo do entendimento, enquanto as segundas dependem de formulação racional consciente.

  • Justificativa terminológica de que, para evitar equívocos decorrentes do sentido moderno do termo “intuitivo”, as “representações intuitivas” devem ser denominadas “representações perceptivas”.