KASTRUP (2021) – IGNORÂNCIA

KASTRUP, Bernardo. Science Ideated: The Fall of Matter and the Contours of the Next Mainstream Scientific Worldview. 1st ed ed. Lanham: John Hunt Publishing Limited, 2021.

A confirmação vivencial da vacuidade do eliminativismo

  • A transição da inferência lógica para a constatação empírica direta provoca uma reavaliação da profundidade de conclusões anteriormente alcançadas apenas pelo pensamento, fenômeno que se manifesta com particular intensidade na confrontação com o eliminativismo e o ilusionismo defendidos por teóricos como o neurocientista Michael Graziano e o filósofo Keith Frankish.

Ao negar a existência da consciência, tais posturas revelam-se não apenas teoricamente incoerentes, mas sintomáticas de uma incapacidade fundamental de introspecção e autorreflexão por parte de seus propositores, os quais aparentam não possuir a competência cognitiva necessária para reconhecer a própria senciência bruta imediata.

  • A interação direta com as respostas de Graziano às críticas filosóficas confirma a suspeita de que a autoridade institucional, evidenciada por posições em universidades como Princeton e destaque em publicações como a New Scientist, não garante a compreensão do problema difícil da consciência formulado por David Chalmers, nem a capacidade de articular contra-argumentos conceitualmente consistentes, expondo uma nudez intelectual análoga à do imperador da fábula que desfila orgulhosamente sua inexistente vestimenta.

O equívoco fundamental na adesão ao materialismo por intelectuais

  • A observação de indivíduos altamente inteligentes e educados, como cientistas da computação versados em artes e clássicos, que se declaram materialistas convictos e rejeitam outras metafísicas como misticismo, revela que o obstáculo epistemológico não reside na incompreensão das alternativas metafísicas, mas sim na profunda incompreensão do próprio materialismo que professam defender.

  • A aceitação acrítica de argumentos eliminativistas, como a noção de que o cérebro engana a si mesmo pensando ser consciente, demonstra uma falha lógica circular, visto que a própria existência de uma decepção pressupõe uma consciência que é enganada; tal aceitação denota que o termo consciência é tratado não como a experiência imediata, mas como uma abstração conceitual não examinada.

Ilustra-se este ponto com a reação de surpresa e incredulidade de adeptos do materialismo quando confrontados com a implicação estrita de sua doutrina, segundo a qual as qualidades da percepção, como cores, odores e a beleza de um jardim, seriam criações internas do crânio e não propriedades do mundo exterior.

  • A crença implícita de que o mundo objetivo é constituído pelas qualidades perceptivas — cores, melodias, texturas — contradiz a premissa fundamental do materialismo científico, que postula um mundo exterior puramente abstrato e quantitativo, gerando uma contradição metafísica onde o indivíduo acredita simultaneamente no materialismo e em um realismo ingênuo sobre as qualidades sensoriais.

A plausibilidade do materialismo baseada na incompreensão e o perigo ético

  • A persistência e popularidade do materialismo derivam paradoxalmente de seu absurdo flagrante, o qual impele a maioria de seus defensores casuais a substituí-lo inconscientemente por uma versão privada e equivocada que mescla o realismo direto com a terminologia materialista, ignorando as contradições internas para manter uma aparência de sanidade conceitual.

Este fenômeno é exacerbado pela incapacidade generalizada de reconhecer a natureza da própria consciência através da introspecção, levando à confusão categorial entre a matéria teórica postulada pela física e as qualidades vivenciais da percepção, erro que torna o materialismo superficialmente plausível apenas porque é mal interpretado.

  • Diferentemente dos equívocos inofensivos de leigos ou técnicos, a pregação ativa do ilusionismo por figuras públicas como Graziano e Frankish representa uma ameaça tóxica aos fundamentos da ética secular e dos códigos morais, uma vez que a negação da realidade da consciência implica logicamente na negação da realidade do sofrimento e da dor.

A desconstrução pública dessas narrativas torna-se, portanto, um imperativo moral, exigindo que se aponte vigorosamente a vacuidade e a nudez conceitual desses argumentos para impedir que o absurdo se consolide como verdade aceita, minando a base da empatia e da responsabilidade humana.