VITA: MEDITAÇÃO DA TÉCNICA - A SOLUÇÃO

Meditação da Técnica

José Ortega y Gasset

Tradução e Prólogo de Luís Washington Vita

[b]8. A SOLUÇÃO[/b]

É preciso concluir à base das premissas oferecidas por Ortega y Gasset, problemáticas sem dúvida, mas turgidas da solução almejada. É preciso desencantar o mito da técnica através de seu logos, unindo sua razão e seu sentimento. Para tanto, socorremo-nos — porque este tema é soçobrante — de Paul Tillich, com o qual concordamos, para concluir: "A técnica tem poder libertador da pressão terrível da dor corporal, da pressão surda ensejada pelos males cotidianos do processo da natureza, da falta de defesa do homem primitivo perante a natureza. O que para nós é evidente, nos tempos pretéritos era um milagre inconcebível. A técnica está em condições de romper os grilhões do espaço e do tempo que inibem a comunidade humana. Sem ela jamais poder-se-ia efetivar a grande esperança final, o pensamento de uma humanidade. É ela a libertadora do misterioso, do demoníaco das coisas, de sua intocabilidade: tudo o que é produzido tecnicamente é desdemonizado. Mas, evidentemente, é também esvaziado. Perdem alguma coisa de sua plenitude vital. É dominado, e por isto a força substituiu-se ao Eros, que une essência a essência. É a violência da racionalidade, à qual as coisas devem obediência. Nós sempre buscamos o novo e o processo da técnica nos ultrapassa, e ninguém sabe para aonde nos arrastar. Por isso muitos querem voltar atrás, ao tempo em que não havia estas possibilidades ... querem inverter as coisas. Este, porém, não é o caminho do espírito. Ele progride. A técnica transformou o mundo, e este mundo transformado é o nosso mundo, e não outro. Nele devemos construir e inserir a técnica no sentido último da vida, sabendo contudo que ela é divina, libertadora e criadora, e é também demoníaca, escravisadora e destruidora. É ela dupla, como tudo que existe. . . Também ela, a libertadora, deve ser libertada; também o seu mito deve desaguar no grande mito de anseios de toda criatura e seu afã de um novo ser, no qual a natureza e o espírito sejam reconciliados" (PAUL Tillich, Logos und Mythos der Technik in "logos", 1927, Vol. XVI, pág. 356 (Conferência pronunciada por ocasião do 99.o aniversário da "Technische Hochschule", de Dresden).