Meditação da Técnica
José Ortega y Gasset
Tradução e Prólogo de Luís Washington Vita
[b]4. TÉCNICA E ECONOMIA[/b]
Consoante Werner Sombart, o conceito de economia abrange três aspectos: a) a mentalidade econômica; b) a ordem econômica; c) a técnica. Ou seja, um sistema econômico é um modo de exercer atividades econômicas, determinado por uma mentalidade específica, uma ordem ou uma organização e uma técnica (Werner Sombart, Witschaft, in "Handworterbuch der Soziologie", Stuttgart, 1931, pág. 654), interdependentes. É óbvio que mentalidade, ordem ou organização e técnica correspondem a determinadas estruturas sociais, porquanto é difícil imaginar-se a mentalidade do lucro numa sociedade comunitária. Por outro lado, a técnica será revolucionária em sociedades classistas, mas no regime de castas sujeito ao princípio do dharma, os métodos aplicados no processo de produção serão, provavelmente, estacionários. Assim, enquanto a empresa medieval visava apenas o sustento dos que nela trabalhavam — tendo sua extensão reduzida devido à ordem econômica normativa — e a divisão técnica do trabalho permanecia rudimentar, já a fábrica moderna, que visa o lucro, é expansionista, racional, individualista quanto à mentalidade, livre e diferenciada quanto à organização, e científica e revolucionária quanto à técnica. Precisamente a organização racional do trabalho foi o impulso que deslocou a técnica do artesão para a técnica do técnico, consoante a terminologia orteguiana, e essa deslocação foi possível graças à "racionalização" que tornou mais produtivo o próprio trabalho, reduzindo este a um mínimo em sua contribuição específica na produção de utilidades. Os exemplos e cifras trazidos por Ortega y Gasset em sua Meditação são suficientes para comprovar a assertiva. Contudo, contra essa racionalização voltam-se alguns espíritos, como Berdiaev, por exemplo, quando escreve: "A técnica representa enorme papel na racionalização. É a técnica que empresta a força que racionaliza a vida da sociedade. Ora, a técnica é, ela também, uma força irracional; ela é desprovida de alma e indiferente ao homem. Por exemplo, a tecnicização e racionalização da indústria criam um fenômeno inumano e irracional: o desemprego. A racionalização pode prejudicar o homem e se tornar irracional. Esta contradição é uma conseqüência da perda do centro espiritual da vida" (N. Berdiaev, L’homme dans la civilization technique, in "Progrès technique et progrès moral", Neuchâtel, 1948, págs. 88-9). É, esta posição, ilustrativa da luta anti-técnica dos espíritos nostálgicos de uma Idade de Ouro irremediavelmente perdida ...