A teoria não postula que as tecnologias da linguagem seriam as causas de transformações no pensar, nem considera as tecnologias da linguagem como sintomáticas de mudanças culturais mais profundas.
Prefere propor uma mútua e concomitante origem: a expressão de um mundo histórico é ao mesmo tempo um fator de configuração dentro do próprio mundo.
Não se aprofunda a noção de mundo, como em Heidegger.
Segundo a teoria da transformação desses autores, o processamento da palavra (ou como se usa dizer, o processamento de texto) já glorificado pela máquina de escrever, inaugura importantes mudanças na maneira como a verdade é modelada publicamente e em como o discurso (o logos) é aceito e visto como algo crível.
A máquina de escrever enquanto passo importante na "tipificação" da linguagem na forma escrita, potencializada pela sua implementação em processadores de texto, intensifica a tipificação da escrita.
Não através da teoria da transformação.
O pensamento de Hegel de uma Erinnerung, uma memória cultural, parece orientar este pressuposto: a história seria redimida através da constante assimilação de novas habilidades e experiências por uma humanidade auto-perfectível.
a noção de mundo
a essência da técnica moderna (Gestell)
a concepção de história.
Nos termos elaborados por Heidegger em sua análise da existência humana oferece-se um contraponto à teoria da tecnologia transformativa de Ong.
Sua principal obra, Ser e Tempo, é uma filosofia da finitude cultural.
Finitude é o tema de Heidegger não apenas na análise existencial do um indivíduo, onde o Dasein(referência ao homem) confronta-se com a possibilidade de não existir mais e suas decisões irrevogáveis.
Finitude é ainda mais profundamente a finitude (external link) do ser, na particularidade de uma certa abertura da realidade.
A existência finita apreende a realidade, e nesta apreensão transiente, a abertura do ser, do que é, se dá.
Na medida que este se dar é tido como dado a verdade do ser não é mais autêntica mas uma "verdade eterna", acima da responsabilidade de um ser finito.
Neste sentido, o ser é finito em cada apreensão da realidade, em cada abertura do que é.
O horizonte no qual o ser se abre é a temporalidade.
Temporalidade deve ser entendida como tempo transcendente ou movimento transcendente, na medida que não é movimento de algo particular, mas condição de algo se mover dentro do tempo.
Ou seja, tempo é intrínseco ao ser e assim a tudo que aparece no mundo do mesmo modo que a abertura da verdade ocorre e é um evento - no sentido transcendental do evento que torna possível qualquer evento.
Assim sendo, mundo com aparecimento do ser é o contexto corrente no qual as coisa são geradas, distinções feitas e conexões estabelecidas.
Mundo é um complexo de envolvimentos, uma projeção pré-teórica e pré-consciente que é finita.
Mundo tem uma trajetória específica com início e fim.
A mundanidade do mundo, sua ocorrência contínua, implica um passado ou herança, assim como uma projeção de conjunto de escolhas em um futuro.
O histórico não significa um conjunto de dados mortos.
Mundos são históricos no sentido de terem passados e futuros reais que definem e delimitam o mundo como uma matriz existencial de coisas possíveis e de atividades possíveis.
Mundo é o lugar onde coisas se configuram, incluindo a substanciação de objetos, a consciência de subjetividade e a coerência de pensamentos e ações.
"Ser é intimamente conectado com tempo de modo que cada mundo tem sua temporalização peculiar das coisas; o modo específico no qual as coisas se reúnem dentro da circunscrição de um humor característico ou tipo de disposição.
Assim é que mundos históricos podem diferir profundamente entre si.
O modo como as coisas vêm à presença vis-à-vis o tempo, o modo de temporalidade ou o 'tempo da vida', define um dado mundo histórico e sustenta seu projeto junto, em um todo distinto.
O tempo, em seu sentido transcendental, contrai de um modo específico para individualizar cada mundo e dispô-lo em épocas e períodos reunidos por um sentido comum metafísico ou uma forma de apreensão da realidade."
"Mundo no sentido existencial, então, admite uma pluralidade, uma variedade de modos nos quais o tempo transcendental pode ser contraído em uma determinada 'presença de entes'.
Existem surpreendentes rupturas na história das apreensões da realidade. Estas rupturas constituem a "história do Ser" epocal.
Entes são desencobertos através do tempo, ou o tempo é o processo auto-desencobridor de apreensões da realidade.
As habilidades requeridas pelas demandas feitas em um mundo existencial, com suas solicitações específicas de atenção e preocupação humanas, não são totalmente compatíveis com as demandas de outro mundo existencial.
A teoria de transformação epocal de Heidegger leva em conta o deslocamento de habilidades e a reorganização das energias da vida que criam sobressaltos na cultura humana."
Como Hegel (e Ong), Heidegger leva a sério as mudanças epocais em compromissos culturais.
Ao invés de séries de desenvolvimento de melhorias sistemáticas, as transformações epocais podem ser compreendidas como conjuntos de caminhos finitos que desenvolvem, avançam, e se perdem quando novos caminhos são abertos por técnicas e habilidades consideravelmente diferentes.
Os caminhos abertos são finitos no sentido que preocupações humanas projetam novas e diferentes direções de desenvolvimento enquanto projetos prévios são dissolvidos ou tomados em modalidades que obscurecem ou transformam impulsos originais de projetos anteriores."
"Conectando a verdade com o mundo existencial, a filosofia de Heidegger implanta limitações intrínsecas no núcleo da verdade.
A verdade dos entes é sempre inerentemente parcial já que o processo de revelar e desencobrir as coisas é fundado nas limitações intrínsecas de suas definição finita.
A verdade, então, é simultaneamente uma revelação e um encobrimento ao mesmo tempo.
A verdade não se restringe a proposições e afirmações.
É a articulação primordial do mundo, do contexto de envolvimentos dentro dos quais pessoas e objetos tornam-se coisas definitivas.
Como verdade da articulação primordial, o mundo existencial é a linguagem primal."