Pickles1985
Spatium e extensio permitem, em qualquer altura, medir as coisas e aquilo para que elas abrem espaço, de acordo com a distância, os vãos e as direções, e calcular essas grandezas. Mas o fato de serem universalmente aplicáveis a tudo o que tem extensão não pode, em caso algum, fazer das grandezas numéricas o fundamento da natureza dos espaços e locais mensuráveis com a ajuda da matemática. (Heidegger, 1971b, 156)
Este tipo de espacialidade tem um carácter particular. É uma espacialidade que dá direções ou situa (“direcionalidade”) e que faz desaparecer o afastamento de algo, aproximando-o (ou “de-distanciando”) (Heidegger, 1927, 105; Kockelmans, 1965, 48).
Esta espacialidade, característica do homem como ser mundano e ek-sistente, deve então ter o carácter de um empreendimento “situador” ou de direccionalidade, em que o mundo já está orientado através da tomada de direção do homem em relação a ele, e a partir da qual surgem as direções fixas da esquerda e da direita. Estas são vitais para orientar o mundo e para nos orientarmos. Situarmo-nos no mundo desta forma é necessário para que o mundo nos seja familiar (Heidegger, 1927, SZ:108-10).
Ao “aproximar”, o homem faz desaparecer o afastamento; algo que antes era remoto é aproximado. Não se trata de uma aproximação no sentido de transportar de longe através de uma distância, mas de uma aproximação ontológica como descrição do modo de ser do homem. Esta proximidade ou afastamento não é a distância física que separa duas entidades. Refere-se ao carácter de-distanciante [Ent-fernung] do ser do homem, que torna possível tais distâncias de medição. Só aproximando os entes desta forma se podem determinar os “afastamentos” e as distâncias, e se pode compreender a espacialidade característica do homem. As estimativas de proximidade e distância neste contexto têm a sua própria definição, embora imprecisa e variável: a biblioteca está “perto”, “ao fundo da estrada”, “do outro lado do caminho”, ou “a cinco minutos daqui”. Estas medidas não têm de todo uma “duração” quantificável. Pelo contrário, a duração estimada — “cinco minutos”, por exemplo — deve ser interpretada apenas em termos de modos de comportamento quotidianos bem habituados. De facto, estes podem ser e são diferentes ao longo do dia e de um dia para o outro. Para o corredor recreativo, por exemplo, a natureza preocupante e variável da duração e da proximidade é uma realidade sempre presente; a corrida que ontem dificilmente poderia ser completada hoje passa quase despercebida. Heidegger comenta que “[à medida que] o Dasein percorre os seus caminhos, não mede um trecho de espaço como uma coisa corpórea que está presente à mão; não ‘devora os quilómetros’; a aproximação ou o de-distanciamento é sempre uma espécie de Ser concomitante em relação ao que é aproximado e separado”. As consequências são claras. A proximidade do pronto-a-ser e a distância objetiva do presente não coincidem. Não é que a primeira não esteja de acordo ou não corresponda ou seja uma distorção da segunda. As duas referem-se a modos diferentes de ser-no-mundo. A primeira — a proximidade — também não pode ser descrita de forma justa como subjectiva, pois revela “a ‘Realidade’ do mundo no seu estado mais Real”, e nada tem a ver com qualquer escolha arbitrária.