DE CASTRO – ANÁLISE SÓCIO-ESPACIAL (SIG)

A análise sócio-espacial é domínio de problemas/tarefas onde se tem a pretensão de, por meio do SIG, explorar novas relações além da econômica, ou seja, outras dimensões que vêm sendo desconsideradas dentro do modelo desenvolvimentista ocidental, no qual este tipo de análise encontra seu lugar predileto; o que não poderia ser obtido pelo incansável aperfeiçoamento dos modelos econômicos, ou pela simples tentativa de matematização dos fenômenos; através da abordagem sócio-espacial, à qual se candidata uma classe de SIG, é possível se pôr em prática uma análise, dentro de uma concepção holística, reconhecendo seu objeto como a sociedade concreta, corporificada pelas dimensões dos processos e relações sociais (economia, política, cultura), pela dimensão espacial, e pela dimensão temporal (histórica) refletida nas dimensões anteriores; afinal de contas, o espaço não é o contexto vazio e neutro onde têm lugar os fenômenos, como conceitua a Física clássica; o espaço simboliza e é simbolizante do social, embora não possuindo uma dinâmica própria, independente dos processos sociais; o espaço condiciona as relações e os processos sociais que o modelaram através de uma dialética sócio-espacial; uma vez produzido, este espaço passa a influenciar e eventualmente determinar, através de sua materialidade e de seu conteúdo simbólico, os futuros processos sociais.


Análise Espacial

  • Geografia, como contexto

    • Pumain
      • Definição: Estudo da interface terrestre e das diferentes gestões aportadas pelas sociedades humanas.
      • Combinação de dois grandes tipos de relações explicativas:
        • Aquelas que interpretam a variedade do mundo pela diversidade dos meios naturais propostos à ação humana, assim como:
          • Pela desigualdade do know-how técnico.
          • Pela diversidade das culturas aplicadas à transformação destes meios.
          • Resumo: estudo das relações "verticais" entre as sociedades e a região do mundo onde elas estão localizadas.
        • Aquelas que se dão conta das disparidades observadas a partir de relações "horizontais" entre os lugares.
          • Que estão determinadas pela maneira pelas quais a sociedade produz espaço geográfico, em função:
            • De suas características antropológicas.
            • Das formas de suas organizações sociais.
            • Do estado das técnicas das quais elas dispõem.
      • Primeira orientação
        • Geografia "clássica", ou ainda da escola francesa de geografia regional dos anos trinta.
        • Atualmente centro de preocupações da chamada "geografia cultural".
        • Centro de trabalhos relativos ao ambiente.
        • Ênfase sobre o que produz a diversidade:
          • Dos lugares.
          • Dos meios.
          • Das regiões.
        • Abordagem ideográfica.
        • Recusa toda possibilidade de generalização.
        • Irredutível unicidade dos lugares.
      • Segunda orientação é a Análise Espacial.
        • Regras gerais:
          • De organização do espaço.
          • Dos modelos.
        • Abordagem nomotética e modelizante.
        • Necessariamente redutora.
        • Abandono das especificidades locais.
      • Interação permanente entre esta duas orientações:
        • Pesquisa por regularidades.
        • Fascinação por pelo que não se vê duas vezes.
      • Ciência tendo seu objeto, seu lugar e sua própria contribuição no seio das ciências humanas.
  • Objetivos

    • Descrever:
      • Uma disposição particular de certos objetos.
      • Sua organização espacial.
      • Referencial das estruturas.
      • A explicação de uma localização por outras.
    • Desvendar:
      • Em que uma localização aporta um elemento útil ao conhecimento dos objetos estudados.
      • Em que isto pode explicar as características, em totalidade ou em parte, da localização.
    • Interessar-se:
      • Pelas propriedades dos objetos enquanto localizados, diferentemente da estatística clássica.
      • Localização estudada por ela mesma.
      • Localização estudada como fator suscetível de intervir na explicação da diversidade dos lugares.
    • Estudar:
      • A repartição e a organização de objetos que são localizáveis.
      • "Objetos" designa elementos imóveis e matérias, tais como construções, formas de relevo, rios, territórios, etc..
      • Objetos imateriais como investimentos, informações, práticas sociais ou culturais, podem ser referenciados a localizações específicas.
      • A associação dos objetos a localizações específicas os tornam "objetos espaciais".
  • Demarches

    • Resumo da informação contida em um mapa temático:
      • Centro de gravidade de um conjunto de pontos.
      • Medindo a intensidade de uma deriva espacial (um gradiente norte-sul).
      • Reconhecendo regiões homogêneas.
    • Fazer emergir estruturas espaciais conhecidas:
      • Certos tipos de redes.
      • Organização de tipo centro-periferia.
    • Testar a pertinência de um modelo espacial que se ajusta aos dados.
    • Ajudar a simular um processo espacial como o da difusão de inovações.
    • Sugerir representações cartográficas novas, fundadas sobre as relações e as trocas entre atores localizados.
  • Informação geográfica e espaço

    • Componente espacial da informação:
      • Os objetos estudados pela análise espacial são sempre localizados.
      • A posição exprime a localização em uma referência explícita.
      • A geocodificação é a operação que permite designar sem ambiguidade uma localização a um objeto, em um sistema de referência geográfico preciso, ou a um conjunto de objetos em um sistema de referência comum.
      • A análise espacial reagrupa conceitos e métodos que tratam da informação geográfica:
        • Componente geométrica, que concerne a localização e forma dos objetos.
        • Componente semântica, que precisa a significação e as propriedades.
      • Localização e forma de objetos elementares:
        • A localização define o posicionamento de um objeto sobre a superfície terrestre, em um sistema de referência explícito.
          • Coordenadas geográficas:
            • Angulares.
            • Retangulares.
          • Altitude.
          • Este posicionamento não é absoluto, pois depende de:
            • Definição matemática de um elipsoide geodésico que representa de forma aproximada a forma da Terra.
            • Escolha do meridiano de origem.
            • Do número e traçado dos meridianos e das paralelas.
            • Convenção nacional e internacional.
        • Aplicam-se métodos de análise espacial não sobre os objetos eles mesmos, mas sobre suas representações simplificadas, gráficas em uma imagem cartográfica:
          • Pontos:
            • Referenciados por um par de coordenadas (+ altitude, eventualmente).
            • Podem ser geocodificados.
          • Linhas:
            • Geocodificação mais complicada.
            • Segmentos de reta, com coordenadas das extremidades.
          • Áreas:
            • Geocodificação complexa.
            • Segmentos de reta delimitando o contorno, com coordenadas para cada extremidade dos segmentos.
          • Estas representações gráficas simbolizam a parte geométrica da informação geográfica:
            • Modo vetor.
            • Modo raster.
          • Segundo o objetivo da análise pode-se simplificar a representação de um polígono por seu centro de gravidade ou seu centroide.
      • As unidades espaciais:
        • Objetos tratados pela Geografia são em geral agregados, grupamentos de objetos elementares localizados.
        • A Geografia não trabalha sobre indivíduos, mas grupos humanos, sociedades em sua totalidade, na medida onde suas ações se manifestaram nas paisagens e nas formas de organização do espaço.
        • As informações localizadas a respeito de agregados de indivíduos ou objetos elementares são conhecidos através de grades espaciais, malhas.
          • Uma grade ou malha é um conjunto de células que formam a partição completa da zona de estudo.
          • Pode ser um simples sistema de referência permitindo atribuir uma localização a objetos ou informações.
        • As informações estatísticas são dadas em malhas de recorte político-administrativo.
        • Os agregados ou grupamentos de objetos elementares que a Geografia estuda são frequentemente impostos pelo aparato de produção estatístico, sendo as informações coletadas restituídas no quadro de unidades político-administrativas.
        • Assim a "unidade espacial" ou "unidade geográfica" se torna o objeto localizado de base para análise espacial, enquanto porção da superfície terrestre à qual se associam informações que resumem o conjunto ou agregado de objetos aí localizados.
    • Componente semântica: atributos das unidades espaciais:
      • Matriz ou Tabela de informações geográficas.
      • Tabelas de intercâmbio.
      • Efeitos de dimensão.
    • As relações espaciais:
      • Distâncias.
      • Uma medida simples da proximidade: a contiguidade.
      • Posição e situação.
    • Estruturas espaciais e objetos geográficos:
      • Agregados espaciais e objetos geográficos.
      • Escalas ou níveis de observação.
      • Generalização, agregação, desagregação.
    • Noção de espaço geográfico: do espaço suporte ao espaço relativo.
  • Lugares e distribuições de lugares

    • Centro e dispersão de um conjunto de pontos:
      • O centro de um conjunto de pontos:
        • O ponto mediano.
        • O ponto médio.
      • A dispersão de um conjunto de pontos:
        • As medidas da dispersão absoluta.
        • A dispersão relativa.
    • Do conjunto de pontos às densidades:
      • Malha e enumeração:
        • Regularidade e irregularidade das malhas.
        • Forma das malhas.
        • Dimensão das malhas.
        • Centralização da grade.
      • Enumeração dos pontos do conjunto e distribuições estatísticas:
        • Distribuição estatística do número de objetos.
        • Distribuição estatística das densidades.
    • A forma de um conjunto de pontos:
      • Algumas distribuições espaciais de referência.
      • Concentração e repartição espacial uniforme:
        • A curva de concentração.
        • O índice de Theil.
      • Conjunto de pontos e distribuições espaciais aleatórias:
        • Comparação de uma distribuição espacial observada à distribuição espacial engendrada por um processo de Poisson.
        • Comparação de uma distribuição espacial observada à distribuição engendrada por uma lei binomial negativa.
      • Distribuição geográfica e fatores de localização:
        • Colocalizações e covariação espacial.
        • Gradientes e distância.
  • Redes e localização

    • Noção de rede:
      • Rede e território.
      • Redes não territoriais.
      • Conexidade, conectividade, estrutura e sistema.
    • Rede e grafo.
    • Morfologia das redes:
      • Índices de dimensão.
      • Índices de conexidade e de conectividade.
      • Aplicação à comparação das redes.
      • Outras aplicações da noção de conexidade.
    • Posição dos nós em um grafo:
      • Aplicação a problemas de localização.
    • Relação das redes ao território:
      • Densidade das redes.
      • Forma das redes.
  • Regiões homogêneas

    • Homogeneidade e semelhança:
      • A homogeneidade: uma noção relativa.
      • Os processos de homogeneização: processos diferenciais.
      • Classificação, regionalização e efeitos de pertencimento.
    • As medidas de homogeneidade:
      • As medidas gerais da homogeneidade:
        • Homogeneidade e equirepartição.
        • Homogeneidade e medidas da dispersão estatística de caráter qualquer.
        • Homogeneidade dos perfis e medida dos desvios de um perfil médio.
      • Semelhança e vizinhança: as medidas de autocorrelação espacial:
        • As medidas de autocorrelação espacial.
        • Generalização das medidas de autocorrelação espacial.
    • Tendências espaciais e regionalização:
      • As classes espaciais da cartografia cloropleta.
      • As tendências de uma configuração espacial: a trama.
      • Semelhança e classificação.
      • Regionalização.
    • Semelhança e efeito de pertinência a uma mesma região.