Wissenschaft und Besinnung
(Ciência e pensamento do sentido, tradução de Carneiro Leão, publicada em Ensaios e Conferências; Science et méditation em francês; Science and Reflection em inglês).
- Wissenschaft
- Ciência.
- Ciencia.
- Science.
- Besinnung
- Pensamento do sentido (Carneiro Leão).
- Méditation (francês).
- Reflection (inglês).
- Réflexion (francês).
- Cultura
- Espaço em que se desenrola a atividade espiritual e criadora do homem, à qual pertence a ciência, sua prática e organização, enquanto um dos bens que o homem preza e se dedica.
- A essência da ciência não se encontra em seu sentido de objeto cultural, assim como a essência da arte
- Lembrar do conceito de Heidegger de essência do homem como testemunha do ser.
- A arte revela a verdade do real de um modo inteiramente consistente com a natureza essencial.
- Em sua essência a arte é uma sagração e um refúgio, em que, cada vez de maneira nova, o real presentei o homem com o esplendor, até então encoberto de seu brilho, a fim de que nesta claridade possa ver com mais pureza e escutar com mais transparência o apelo da essência.
- A ciência é um modo decisivo de se apresentar tudo que é e está sendo
- Assim como a técnica não é mera fabricação do homem.
- Na ciência moderna, H. (Heidegger) vê uma destinação além da simples busca do saber.
- Por isto determina em seus traços e em proporção crescente, a realidade na qual o homem de hoje se move e se sustenta.
- O poder da ciência se desenvolveu e se mundializa
- Será a ciência um conjunto de poderes humanos capazes de se dominar pela vontade e decisão?
- Será um destino superior?
- Será que rege algo mais que um querer conhecer? De fato assim é, e para desvendá-lo é necessário ir além das representações habituais.
- Este algo mais consiste em uma conjuntura que atravessa as ciências, de modo encoberto. Sua formulação mais simples e direta seria: a ciência é a teoria do real.
- A formulação é mais uma provocação ao questionamento que uma definição.
- A fórmula se aplica à ciência moderna, mas não à ciência grega ou medieval.
- Necessário diálogo com as origens do pensamento ocidental, na Grécia, para compreender a ciência moderna.
- "A ciência é a teoria do real"
- O que significa o real?
- O real preenche e cumpre o setor da operação, daquilo que opera.
- O real (das Wirkliche) preenche (erfüllt - preenche e realiza) o domínio do "obrante", daquilo que obra (francês).
- O real (das Wirkliche) traz à plenitude o reino da obra (das Wirkenden), daquilo que obra (wirkt) - inglês.
- Pensado originalmente pelos gregos como energeia, "vigência-na-obra".
- Algo que vige depois de ter chegado ao des-encobrimento.
- O termo adquire um novo sentido, de ser causado.
- Na mesma luz como Deus vem a ser pensado como "causa primeira".
- Em tempos modernos, o modo de causação se move em direção à visão de "consequências", que se contrapõem à causa.
- O que se desenrola é o conceito moderno de objeto e objetividade.
- O termo real, na frase "a ciência é a teoria do real", não é simplesmente passivo mas nossa concepção e expectativas do real organizam a ciência em um modo específico.
- O que a ciência vai estudar como o real é o mundo apreendido sob a limitada noção de presença de objetos apenas.
- O que significa teoria?
- Teoria no sentido grego é "bios theoritikos", o modo de vida do observador, "a observação que supervisiona a verdade".
- Há um sentido moderno distinto, proclamado na frase "a ciência moderna como teoria do real".
- Uma transformação do pensar devida à translação do termo para a língua romana (theorein -> contemplari).
- Ao afirmar que a ciência é objetiva, "desinteressada", "neutra", escamoteia-se um "interesse" em ver a realidade de acordo com uma fórmula, onde os objetos se pré-definem, se agrupam e se categorizam.
- A ciência enquanto "teoria do real" é necessariamente espacializada, departamentalizada, "disciplinada"...
- A exemplo da técnica moderna, a ciência moderna valoriza uma relação sujeito-objeto
- O homem estabelece o real de modo objetificante, moldado para ser categorizado e medido.
- Nos movemos do real como "o que se presentifica como "auto-exibição" para algo que é enquadrado segundo uma objetividade.
- A relação sujeito-objeto é ordenadora, sendo ambos, sujeito e objeto, sugados como "dis-ponibilidades" (Bestand).
- Está assim explicado porque a técnica moderna é baseada na aplicação da ciência moderna; o mesmo destino vige essencialmente em ambas.
- Pode a ciência abarcar a natureza, e assim compreendê-la?
- Não, a ciência só pode alcançar uma compreensão de um modo pelo qual a natureza se apresenta, ou melhor, se presentifica.
- A natureza ela mesma está sempre exibindo a si mesma de outros modo inesperados.
- A natureza, o homem, a história, a linguagem estão todos além do enquadramento da ciência; seus múltiplos modos de presentificação não se conformam à abordagem científica.
- Isto significa que a ciência não pode cientificamente chegar à sua própria essência; assim peca em se auto-justificar.
- Em outras palavras, e de modo até arriscado, a ciência, vista como o melhor da racionalidade pelos modernos, não pode sustentar ou se tornar a base de qualquer reflexão séria sobre o ser humano ou sobre o significado da história.
- Ao lançarmo-nos na empreitada científica corre-se o risco de fazer sucumbir qualquer modo genuíno de reflexão sobre o ser e o viver, às exigências do método científico.
- Forçados a uma objetividade artificial o homem se vê submetido a contínuas surpresas quando a realidade não se apresenta sob a disciplina científica.