A Questão da Técnica

Sumário de ensaio de Heidegger, fundamental para reflexão sobre a essência da informática

📌 Sobre a obra

“A Questão da Técnica” é uma conferência que Heidegger deu na Escola Técnica Superior de Munique, em 18 de novembro de 1953, para uma audiência em sua maior parte formada por técnicos e engenheiros.

Versão original:
“Die Frage nach der Technik”, Vorträge und Aufsätze. Günther Neske, Pfullingen, 1965


🌍 Traduções

  • Português: “A Questão da Técnica”, trad. Emmanuel Carneiro Leão. Ensaios e Conferências, Editora Vozes, Petrópolis, 2002.
  • Espanhol: “LA PREGUNTA POR LA TÉCNICA”, Traducción de Eustaquio Barjau. Conferencias y artículos, Ediciones del Serbal, Barcelona, 1994.
  • Francês: “La question de la technique”, trad. André Préau. Essais et conférences, Gallimard, Paris, 1958.
  • Inglês: “The Question Concerning Technology”, trad. William Lovitt. The Question Concerning Technology and Other Essays, Harper, San Francisco, 1997.

🧠 Questionamento – Caminho do Pensar

Questionaremos a técnica, construindo um caminho do pensar, que obrigatoriamente passa através da linguagem. Com isto preparamos um relacionamento livre com a técnica, capaz de abrir nosso Dasein à essência da técnica, o que vai nos permitir experimentar seus limites.


❓ O que é a Técnica?

Concepções correntes da técnica:

  • Meio para um fim
  • Atividade humana
  • Produção e uso de ferramentas, aparelhos e máquinas, assim como estes mesmos produtos e utensílios, formam o conjunto da técnica.

“A própria técnica é também um instrumentum.”

Determinações instrumentais e antropológicas:

  • Correto × Verdadeiro
    A determinação instrumental é correta, mas não verdadeira.
  • Instrumentalidade
    A busca da verdade da técnica se dá através do questionamento da instrumentalidade.

⚙️ Causalidade Aristotélica

“Onde se perseguem fins, aplicam-se meios, onde reina a instrumentalidade, aí também impera a causalidade.”

As quatro causas aristotélicas:

  1. Causa materialis – a matéria de que algo é feito (ex.: a prata do cálice).
  2. Causa formalis – a forma ou figura que define o objeto (ex.: a forma de cálice).
  3. Causa finalis – a finalidade, o propósito (ex.: uso sacrificial do cálice).
  4. Causa efficiens – não é apenas “eficiente” no sentido moderno, mas aquela que reúne e reflete as outras três causas, fazendo aparecer o objeto.

“As quatro causas são os quatro modos, coerentes entre si, de responder e dever.”

Articulação das causas como modos de “deixar-viger” (vir a ser)

  • Os quatro modos deixam chegar à vigência o que ainda não vige.
  • Produção (poiesis) é todo “deixar-viger” que traz algo do não-vigente para a vigência.
  • O desvelamento (aletheia) funda a produção.

🔍 A Técnica como Forma de Desvelamento

  • Técnica = forma de desvelamento → fala-se, portanto, de verdade (aletheia).
  • Techne pertence à poiesis, é algo poético.
  • Em Platão, techne e episteme ocorrem juntas como conhecimento.
  • Conhecimento provoca abertura → é um desvelamento.
  • Técnica vigora no âmbito do desvelamento, onde acontece a verdade.

⚡ A Técnica Moderna

  • Não é simplesmente aplicação da ciência moderna.
  • Também é um desvelamento, mas não como poiesis.
  • É uma exploração que impõe à natureza a pretensão de fornecer energia, que pode ser extraída, armazenada, distribuída.
  • Caracteriza-se pelo pôr explorador.
  • O real aparece como disponibilidade (Bestand), não mais como objeto.
  • O homem é desafiado pela disposição (Gestell) a tratar tudo como recurso disponível.

🏗️ Gestell (Composição)

  • Força de reunião que põe o homem a dispor do real como disponibilidade.
  • Essência da técnica moderna.
  • Não é algo técnico, mas o modo de desvelamento que rege a técnica moderna.
  • Destino (Geschick) – envio que encaminha o homem para um modo de desvelamento.
  • A com-posição é um destino perigoso, pois encobre outros modos de desvelamento (como a poiesis).

Perigo da Gestell:

  • Reduz tudo a disponibilidade.
  • Encobre o desvelamento como tal.
  • Faz o homem acreditar que tudo é feito por ele, fechando-o para a experiência originária da verdade.

⚠️ Perigo da Técnica

  • Não há “demonia” da técnica, apenas o mistério de sua essência.
  • O perigo está no esquecimento do desvelamento.
  • Hölderlin: “Onde mora o perigo, é lá que também cresce o que salva.”

O que salva:

  • A essência da técnica não é um gênero, mas um modo de vigência (Wesen).
  • A técnica como destino é também uma concessão – chama o homem a guardar o desvelamento.
  • A arte (techne como poiesis) pode ser um caminho para um relacionamento livre com a técnica.
  • A arte já foi, entre os gregos, um desvelamento que levava a verdade a brilhar na beleza.

🎨 Arte e Salvação

  • A arte grega não era “arte” no sentido estético moderno, mas piedade (promos), integrada na preservação da verdade.
  • A arte pode fomentar o que salva no perigo extremo da com-posição.
  • Precisamos questionar tanto a essência da técnica quanto a essência da arte, para além da estética e da instrumentalidade.

🧭 Conclusão

É mais que necessário questionar a essência da técnica e a essência da arte, em meio a tanta técnica e tanta estética.