Eis, agora a questão fundamental de todo Atlas: de que se deve levantar uma carta? Resposta evidente: dos seres, dos corpos, das coisas… que não se podem pensar de outro modo. Por que não desenhamos jamais, com efeito, as órbitas dos planetas, por exemplo? Porque uma lei universal prediz suas posições; que fazer de um guia rodoviário, no caso de movimentos e situações previsíveis? Seria suficiente deduzir de sua lei. Nenhuma regra, ao contrário, prescreve o recorte dos rios, o relevo das paisagens, o plano da cidade natal, o perfil do nariz nem a impressão digital do polegar… Eis singularidade, identidades, afastadas infinitamente de toda lei; trata-se de existência, dizem os filósofos, e não de razão.
Então as simulações que se denominam retratos, reproduções ou representações não passaram de retardatários aos princípios, não descobertos ou ainda ausentes. (…) A lei rigorosa, enfim, é a melhor das memórias, sem armazenamento, portanto leve, enquanto se deve portar e conservar traçados para guardar uma lembrança, pesada de singularidades.
Ora os métodos algorítmicos, antigos pois datam dos babilônios, mas novos, após os computadores, costurando, portanto, eles também, dois modos e dois tempos, presidem as tecnologias da simulação, que abordam a existência com uma aproximação esquisita. (…) Como os algoritmos procedem, no sentido absoluto do termo, quer dizer descrevem processos, métodos por conjuntos de caminhos, sua razão pode se dizer cartográfica. Procedendo passo a passo, mas na velocidade da luz, a simulação apreende aquilo que denominamos a razão. (Serres, 1994, pág. 18)