de Castro – Alavanca: Bastão e Fulcro

Quanto ao quinto elemento, a alavanca, tem-se nela uma perfeita analogia com a tecnologia da informação e da comunicação. Esta, como a alavanca no modelo, deve ser vista em termos de seus componentes tecnológicos imediatos, e a partir desta decomposição, em termos de suas articulações com os demais elementos do modelo. Com efeito, trata-se de uma tecnologia com articulações distintas em cada um dos três níveis indicados na figura: o solo, a articulação pessoa-pedra, e o quadro do modelo.

Primeiramente, o fulcro, o apoio1 da alavanca sobre o solo, simbolizando o hardware (o equipamento), sobre o qual se movimenta o bastão, por sua vez, uma metáfora do software (o programa de computador). O fulcro é a base material mínima, hard, de todo um complexo (ware) de natureza soft, que se estende desde a linguagem de máquina, associada ao equipamento, até os procedimentos metodológicos, em grande parte pré-estabelecidos pelas funções disponibilizadas pelo software.

As funções do software, operando sobre o hardware, determinam, direta e indiretamente, o engajamento e a operação das próprias pessoas do projeto. Seja a atuação destas pessoas sob a forma individual ou coletiva, a nível grupal ou até organizacional. Grande parte das atividades das pessoas é, deste modo, regida pelas funções oferecidas pela tecnologia.

O software, o bastão da alavanca com suas duas pontas, pode certamente simbolizar a díade algoritmo-dados, retrato fiel de um programa de computador e sua base de dados. Base esta que reúne e virtualiza as representações dos objetos de estudo de um problema, sob a forma de dados simbólicos organizados segundo um estrutura de banco de dados.

Ou seja, o software deve ser entendido como a codificação de um problema e de sua “lógica” em linguagens computacionais, através das quais se definem estruturas de dados simbólicos, supostamente retratando os elementos essências do(s) objeto(s) do problema, e se formalizam as instruções ou os algoritmos, que devem trabalhar de modo “lógico” sobre estas mesmas estruturas, tendo em vista a representação informacional-comunicacional do problema. O bastão é, no caso da informática, um engenho de representação informacional-comunicacional, reunindo toda a funcionalidade lógica e de estrutura de dados simbólicos, requeridas para tal.

A ponta do bastão empunhada pelo elemento pessoa, deveria oferecer as condições necessárias para que empunhando-o com naturalidade, ela fosse capaz de manipular com alguma facilidade a pedra diante de si2. Ou seja, em analogia com o que acaba de ser dito para a alavanca, a informática deveria responder a um conjunto de requisitos de “usabilidade”, a serem atendidos para o sucesso de sua manipulação.

Já a outra ponta do bastão, que toca o elemento pedra, representando o problema, deveria oferecer, por sua vez, as condições adequadas para uma perfeita abordagem e movimentação da pedra. Ou seja, mantida esta analogia com a alavanca, a informática deveria também propiciar a funcionalidade e o modelo de dados adequado à abordagem e à “movimentação” de um dado problema pela informatização, garantindo o exercício eficaz e eficiente das funções básicas de captura, armazenamento, processamento e apresentação de dados do problema.

O bastão mediando e articulando, por sobre o fulcro, os elementos pessoa e pedra, nos parece merecer uma série de considerações e reflexões sobre as analogias que apresenta com a tecnologia de informação e de comunicação. Em especial, pelo modo como este se situa como um instrumento com ampla penetração e atuação no processo cognitivo, que se desenvolve entre pessoa-problema, ou seja, no campo intelectual daquele que em sua ocupação informacional-comunicacional se estabelece como usuário da informática.


  1. O que nos faz lembrar a importância do ponto de apoio de uma técnica sobre a organização, pois como dizia Arquimedes: me dê um ponto de apoio e poderei mover a Terra. Esta ponto de apoio, situado mais ou menos próximo do problema (pedra), para facilitar a ação da alavanca, assim como a articulação do fulcro com o bastão da alavanca, levantam, de forma alegórica, uma outra série de considerações interessantes, que desenvolveremos em outro ensaio. 

  2. Arquimedes, que desenvolveu em seus trabalhos todo um discurso específico sobre a alavanca, afirmava que esta deveria ser concebida de tal forma que qualquer pessoa pudesse empunhá-la e aplicá-la sem muito esforço, movimentando obstáculos inamovíveis sem a ajuda desta ferramenta.