de Castro – Programa de Computador = Algoritmos + Dados

No processo de informatização de um sistema-objeto1, um dos objetivos iniciais é diante de uma problemática definida, identificar uma solução hipotética, incluindo os procedimentos informacionais e os dados a serem operados por estes procedimentos, de maneira a projetá-la, respectivamente, em algoritmos e em dados simbólicos, e, posteriormente, codificá-la em um programa com sua estrutura de dados associada, na língua técnica do computador.

Naturalmente, uma vez formalizado um programa, pela dissecação de um ato-fato humano, em seus dados simbólicos e no conjunto de operações sobre estes (o algoritmo), corre-se o risco de perda da percepção global do ato-fato original, em si mesmo. O rigor da descrição formal passa, por sua vez, a ser doravante a referência e a explicação do dito ato-fato.

Deste modo, o ato-fato original, enquanto ente, submete-se à lógica puramente operatória, perdendo eventuais polos de significação. Um programa de computador pretende ser uma equação ótima combinando algoritmo(s) com estrutura(s) de dados simbólicos, dentro do computador, visando à consecução de tarefas, que traduzem a visão do ato-fato humano como um problema de natureza informacional.

Fatos sob a forma de estruturas de dados simbólicos e algoritmos como fórmulas operativas sobre estas estruturas, são por si mesmos sem significado. Para que o engenho de representação mimetize aproximadamente o que Heidegger denomina “ocupação”, cabe ao homem que o opera dar alguma relevância a esta construção algoritmos-dados. Mas os predicados que devem ser adicionados para registrar esta relevância junto à construção artificial são apenas mais algoritmos-dados sem significado; e paradoxalmente, quanto mais fatos, sob esta configuração são adicionados ao engenho, mais distante de uma “ocupação” se situa a interação homem e engenho2).

Referências:

Tese de Doutorado em Geografia (UFRJ, 1999)

DE CASTRO, M. C. SIG – Sistema de Informação Geográfico ou sig – sintetizador de ilusões geográficas. Desconstruindo uma formação discursiva. UFRJ-PPGG, , 1999. Disponível em: <https://www.academia.edu/43466069/SIG_Sistema_de_Informa%C3%A7%C3%A3o_Geogr%C3%A1fico_ou_sig_sintetizador_de_ilus%C3%B5es_geogr%C3%A1ficas_Desconstruindo_uma_forma%C3%A7%C3%A3o_discursiva_Murilo_Cardoso_de_Castro>

  1. O sistema-objeto deve ser entendido como a leitura, já sob a perspectiva do método informacional-comunicacional, de um recorte arbitrado sobre a realidade dos atos-fatos humanos. De modo que nele, sob o ângulo da informática, estão realçados os problemas a serem processados, após uma tradução segundo a língua técnica do computador, sob a forma de tarefas homens-máquinas, estruturas de dados simbólicos e fluxos de dados, de acordo com uma sistematização, uma ordenação lógica. 

  2. Pode-se apreender formalmente o conceito referencial que constitui o mundo como significância no sentido de um sistema de relações. Deve-se, porém, atentar para o fato de que tais formalizações nivelam de tal modo os fenômenos que, em remissões tão “simples” como as que a significância abriga, perdem o conteúdo propriamente fenomenal. Essas “relações” e “relatas” do ser para, da função, do estar com de uma conjuntura, em seu conteúdo fenomenal, resistem a toda funcionalização matemática; também não são algo pensado, posto pela primeira vez pelo pensamento, mas remissões em que a circunvisão da ocupação sempre se detém como tal. Esse “sistema de relações” constitutivo da mundanidade dissolve tão pouco o ser do manual intramundano que, na verdade, é só com base na mundanidade do mundo que ele pode descobrir-se em seu “em si substancial”. E somente quando o ente intramundano em geral puder vir ao encontro é que subsiste a possibilidade de se tornar acessível o que, no âmbito deste ente, é simplesmente dado. Com base neste ser simplesmente dado é que se podem determinar “propriedades” desses entes em “conceitos de funções matemáticas”. Conceitos de função dessa espécie só se tornam ontologicamente possíveis remetendo-se a um ente cujo ser possui o caráter de pura substancialidade. Conceitos de função não são outra coisa do que conceitos formalizados de substância. (Heidegger, 1986/1998, pág. 133-134