de Castro – “Logicização” – Matriz Teórica da Informatização

A exploração tecnológica parece dizer, em um primeiro sentido, que a técnica, através seus complexos instrumentais e seus métodos, se amparou do ser do homem – e do mundo. Para Heidegger, isto é inegável, mas ainda não se disse nada mantendo-se nesta constatação: se a existência é interpelada pela técnica, é porque esta é portadora de um poder de exploração que rege a necessidade mesmo dos funcionamentos técnicos e não se deixa portanto explicar por eles. É este poder que constitui o próprio da tecnologicização do mundo. É este poder que demanda ser pensado para que um caminho seja preparado em direção ao homem. Este poder endereça uma exploração – através da “tecno-logicização do mundo”. “Logicização” sinaliza duplamente: em direção ao logos como a palavra que mostra e desvela, e a este título, acorda o pensamento aquilo que é mostrado; o logos é a exploração ou ainda, a palavra requerente. Mas a “logicização” sinaliza em direção ao “cálculo”; certamente, em direção aos processos algébricos da lógica-matemática, e em direção a sua realização nas máquinas de calcular. Mas de maneira mais geral e mais fundamental, em direção ao por em ordem generalizado da totalidade do ente, através da qual já reconhecemos “o cálculo absoluto de todas as coisas”. ()

É preciso sempre lembrar a natureza representacional da tecnologia da informação. Pelo método informacional-comunicacional uma coisa é capturada para um modo digital, tornando-se uma dis-ponibilidade para exploração. Essa dis-ponibilidade, enquanto mimese virtual da coisa, é uma dis-posição artificial da razão e da memória que apreenderam a coisa, e se dá como um conhecimento originalmente construído segundo o método informacional-comunicacional.

O método informacional-comunicacional, por sua vez, é uma especialização do método científico, o seu rebento mais novo e hiperativo. Realiza, segundo Chazal , de certa maneira, uma das previsões de Kant (“Lógica”): “Com o desenvolvimento da história natural, da matemática, etc., novos métodos serão descobertos, próprios a condensar o saber anterior e tornar supérfluos uma quantidade de livros. Da descoberta de tais métodos e de tais novos princípios depende a possibilidade que estejamos graças a eles em condições de tudo descobrir por nós mesmos sem sobrecarregar a memória.”

Essa previsão de Kant soa como uma profecia dos resultados alcançados com a informatização, onde a disseminação do método informacional-comunicacional garante esta condensação do real em virtual, e, em seguida, a transformação desta nova “base de conhecimento virtual” em algo capaz de apoiar nossa vontade de saber no sentido “de tudo descobrir por nós mesmos sem sobrecarregar a memória”.

Bibliografia: