de Castro – Informatização, realização do real pelo virtual

A informatização pretende assim ser a realização do real pelo virtual. O virtual realiza o real, no sentido de “tornar real” o real. Uma incongruência que, cada vez mais, faz sentido para um contingente crescente da humanidade conectada como periférico de tecnologias da informação, interligadas pela teia da Internet.

Mas, neste caso, como informatizar chega a realizar?

Decerto, realizar e informatizar não são a mesma palavra. Mas se não são a mesma palavra, em todas as comunidades linguísticas em uso, pertencem à mesma língua de origem e dizem a mesma coisa, a saber: a transformação do real numa forma controlada de poder. Informatizar é um neologismo derivado de informática para designar toda uma ordem de real, realização e realidade, instaurada pelo processamento micro-eletrônico das informações. Com os recursos denotativos e conotativos da adjetivação, substantivação e verbalização, se colocou em ação nos dois eixos da modernidade, no paradigmático e no sintagmático, um principio de ordem e uma força de organização, a que nada do mesmo nível poderá resistir: a informatização total da sociedade. Para se avaliar a profundidade das transformações históricas que aqui se operam, deve-se levar em conta duas coisas essenciais na dinâmica de realização da informática. Em primeiro lugar, a forma da informática não remete apenas para o âmbito artesanal das artes e ofícios. Remete também para o domínio de qualquer criação, seja na arte, na ciência, na indústria, na organização ou na convivência. Em segundo lugar, a forma da informática indica uma estrutura plural composta de circuitos e programação. De acordo com esta pluralidade se realiza uma composição de forma capaz de processar não apenas dados, mas conhecimentos, sistemas de relações. Tudo é, então, reduzido a formas e somente a formas. Nesta redução universal a informatização não apenas realiza, como, sobretudo, desafia em todos os níveis a criatividade e o inesperado de qualquer sociedade que se informatiza. (Carneiro Leão, 1992, pág. 95)