de Castro – Morfogênese da Tecnologia da Informação

Com essa noção de meio, muito própria desta reflexão, devidamente estabelecida, cabe o estudo da informatização agindo como principal catalisador deste meio, orientando em sua ontogenia o engenho de representação no dar-se e propor-se da informática. A informatização reúne e dispõe a “matematização”, a “logicização” e a “industrialização da memória1, na manifestação da tecnologia da informação.

Neste percurso vislumbra-se a morfogênese da tecnologia da informação enquanto fenômeno essencial dos Tempos Modernos. Uma tecnologia cuja natureza se assemelha mais e mais a um “dis-positivo geral de representação”, ou melhor, a um “engenho universal de representação”, em perfeita consonância com a metafísica da Modernidade; definida esta metafísica através de uma acepção do ente e de uma explicação da verdade, peculiar dos Tempos Modernos.

Lá onde o Mundo se torna imagem concebida (Bild), a totalidade do ente é compreendida e fixada como aquilo sobre o qual o homem pode se orientar, como aquilo que vale consequentemente recolher e ter diante de si, aspirando assim fixá-lo, em um sentido decisivo, em uma representação. “Weltbild”, o mundo na medida de uma “concepção”, não significa, portanto uma ideia de mundo, mas o mundo ele mesmo apreendido como aquilo aquilo do qual se pode “ter ideia”. O ente em sua totalidade é, portanto, tomado agora de tal maneira que só é verdadeiramente e somente ente na medida que é detido e fixado pelo homem na representação e na produção. Com o advento da “Weltbild” se realiza uma intimação decisiva quanto ao ente em sua totalidade. O ser do ente é doravante pesquisado e descoberto no ser-representado do ente.2.

A ultima parte desse estudo analisa, portanto, a questão da representação, como a própria razão de ser da informática, enquanto tecnologia da informação, buscando a possível identidade da essência da técnica moderna com a essência da metafísica moderna, à medida que o “processo fundamental dos Tempos Modernos é a conquista do mundo enquanto imagem concebida”; onde a representação é a pedra de toque capaz de converter o real em objeto informacional-comunicacional.


  1. STIEGLER, Bernard. La technique et le temps. Paris: Galilée, 1994 e 1996 

  2. HEIDEGGER, Martin. Chemins qui ne mènent nulle part. Trad. Wolfgang Brokmeier. Paris: Gallimard, 1962, pág. 117