de Castro – Informática, instrumento informacional

No caso, a informática, enquanto técnica moderna de natureza muito peculiar, por operar com e sobre a razão e a memória humanas, não há como compara-la às técnicas artesanais de cálculo, como o ábaco chinês, e as maquinas de cálculo, como a de Pascal. Estas apenas operam um procedimento de cálculo de modo artificial, mas não mantém apreendido e armazenado para exploração na própria técnica, a razão e a memória humanas, em condição de “diálogo”.

Mas como essa peculiaridade da informática, ou da tecnologia da informação se evidencia? A resposta está no complemento qualificador “da informação” que denota justamente a diferença desta técnica em relação às técnicas denominadas industriais, e às máquinas de cálculo até o século XIX.

A sua ação instrumental se dá em um contexto, sobre um material e segundo uma prática, distintos daqueles associados à técnica industrial ou às máquinas de cálculo. O sentido peculiar do complemento qualificador “da informação” permeia a tecnologia em todos os seus aspectos, como aquilo de que é constituída e sobre a qual opera. A informação é a dis-posição do que é explorado na tecnologia da informação visando um des-encobrimento.

Os circuitos eletro-eletrônicos de sua base material, o algoritmo lógico-matemático de seus programas e as estruturas de dados armazenadas em sua memória perfazem aquilo que o complemento qualificador “da informação” outorga a esta técnica moderna. Assim a informação constitui esta tecnologia “da informação”, e é, ao mesmo tempo, configurada como representação da razão e memória, a ser por ela explorada em sua operação.

Nesta constituição e operação da tecnologia da informação, se dá a nova instituição do fazimento humano projetado agora sobre bases puramente artificiais, sustentando e sustentado pela vigência da informatização. O humano de sua situação tradicional de artesão dominando sua arte, sua técnica, passa a situação de um simples “periférico” necessário à operação da tecnologia.

A técnica moderna, cada vez mais, distancia-se do homem em sua concepção e mesmo em sua operação direta. Donde decorrem as preocupações inúteis por domesticar a técnica e por estabelecer uma relação justa homem-técnica; ambas motivadas pela vontade de ser mestre da técnica que ameaça escapar ao controle.

Enquanto meio para um fim, a informática é algo constituído por informação, onde informação é operada e informação é obtida. Neste ciclo de processamento de informação perde-se a distinção entre meios e fins, no encantamento do instrumento capaz de reproduzir a razão e a memória humanas, na lida com atos e fatos. De qualquer modo, onde fins são perseguidos e meios utilizados, onde instrumentalidade reina soberana, lá domina a causalidade.

Tese de Doutorado em Filosofia (UFRJ, 2005)

DE CASTRO, M. C. O que é informática e sua essência. Pensando a “questão da informática” com M. Heidegger. UFRJ-IFCS, , 2005. Disponível em: <https://www.academia.edu/43690212/O_que_%C3%A9_inform%C3%A1tica_e_sua_ess%C3%AAncia_Pensando_a_quest%C3%A3o_da_inform%C3%A1tica_com_M_Heidegger>