Didier Franck, «Heidegger et le problème de l’espace»
A questão do ser, ou melhor, a questão do sentido do ser é a questão fundamental da filosofia. Heidegger analisa a estrutura formal de toda questão em geral a fim de fazer destacar a especificidade da questão do ser. A investigação pré-orientada e como que provocada à distância por isso mesmo que ela investiga, a questão supõe um pré-dado disto que ela visa conhecer e sem o qual ela não poderia simplesmente se entender. Também o primeiro momento de toda questão (Frage) é esse mesmo que a inquieta e do qual se inquire: o demandado (Gefragte). Questionar a respeito de…., é sempre, de uma maneira ou outra, endereçar uma questão à alguém ou algo, interrogar um ente. A questão implica então — segundo momento — aquilo ou aquele a quem a questão é posta: o interrogado (Befragte). Enfim, se a questão interpela um interrogado a respeito do que é demandado, é para obter algo, alcançar, iluminar, determinar propriamente e rigorosamente um terceiro momento (Erfragte). A questão do ser não pode surgir senão de uma pré-compreensão do sentido do ser. Pois se não sabemos o que ser quer dizer, compreendemos todavia e vagamente todos os enunciados que convocam o ser, a começar pela questão: que quer dizer «ser»? Uma compreensão vaga, quer dizer vazia, ordinária, confusa do ser é um fato e significa que o ser é dado como previamente à questão a ele se consagra. A questão do ser versa sobre o ser enquanto aquilo a partir de que todo ente é compreendido como tal, o que determina o ente como ente e que, por esta razão, nada é de ente. O ser do ente é portanto o demandado. Se o ser é o ser do ente, é ao ente mesmo que a questão se endereça, é o ente que é o interrogado. O ente é apostrofado a fim de liberar o sentido de seu ser que, propriamente visado, é o questionado. O ser do ente, o ente, o sentido do ser são os três momentos estruturais da questão do ser.