[HEIDEGGER, Martin. Contribuições à Filosofia (Do Acontecimento Apropriador). Tr. Marco Antonio Casanova. Rio de Janeiro: Via Verita, 2014, §58]

O cálculo – estabelecido pela primeira vez no poder por meio da maquinação da técnica, maquinação essa que se funda, em consonância com o saber, na matematização; aqui a conceptualidade prévia se mostra obscura em termos de sentenças diretrizes e de regras, e, por isso, a segurança da direção e do planejamento, o ensaio; a inquestionabilidade do atravessar de algum modo; nada é impossível, se está certo do “ente”; não se necessita mais da pergunta sobre a essência da verdade; tudo tem de se orientar pelo estado respectivo do cálculo; a partir daí, o primado da organização, recusa a uma mudança que cresça livremente desde o fundamento; o incalculável é aqui apenas o ainda não dominado pelo cálculo, mas que em si pode ser expressamente capturado; portanto, de modo algum aquilo que se encontra fora de todo cálculo; em instantes “sentimentais”, que não raramente estão precisamente sob o “domínio” do cálculo, o “destino” e a “providência” são tomados por empenho, mas nunca de tal modo que poderia emergir daquilo que é aí conclamado uma força configuradora, que poderia algum dia indicar os limites da mania do cálculo. [119]

O cálculo é visado aqui como a lei fundamental do comportamento, não como a mera reflexão e até mesmo a astúcia, que pertencem a todo modo de agir humano.

Martin Heidegger