Stiegler2002
[…] Se tivéssemos tempo, eu insistiria num outro traço de “atualidade”, do que se passa hoje e do que se passa, hoje, com a atualidade. Insistiria não só na síntese artificial (imagem sintética, voz sintética, todos os suplementos protéticos que podem tomar o lugar da atualidade real), mas sobretudo num conceito de virtualidade (imagem virtual, espaço virtual, e assim acontecimento virtual) que já não pode, sem dúvida, ser oposto, em perfeita serenidade filosófica, à realidade real [actuelle], tal como os filósofos costumavam distinguir entre potência e ato, dynamis e energeia, a potencialidade de uma matéria e a forma definidora de um telos, e portanto também de um progresso, etc. Esta virtualidade marca mesmo a estrutura do acontecimento produzido. Afecta tanto o tempo como o espaço da imagem, do discurso, da “informação”, em suma, tudo o que nos remete para essa pretensa atualidade, para a realidade implacável do seu suposto presente. Hoje, um filósofo que “pensa o seu tempo” deve, entre outras coisas, estar atento às implicações e consequências deste tempo virtual. Às inovações na sua implementação técnica, mas também ao que o novo recorda de possibilidades muito mais antigas.