A Galáxia de Gutenberg adota e desenvolve uma abordagem dos seus problemas por campo, apresentando-os sob a forma de um mosaico de numerosos dados e citações que os evidenciam ou comprovam. Tal imagem em mosaico constitui o único meio prático de revelar operações causais na história. O procedimento alternativo seria o de apresentar uma série de quadros de relacionamentos determinados e fixos dentro de um espaço pictórico.
Deste modo, a galáxia, ou constelação de eventos sobre que se concentra o presente estudo, é ela própria o mosaico de formas em perpétua interação pelo qual se operou e se opera a caleidoscópica transformação — particularmente acentuada em nosso tempo.
Podia haver certa vantagem em substituir a palavra galáxia por meio ambiente.
Qualquer nova tecnologia de transporte ou comunicação tende a criar seu respectivo meio ambiente humano. O manuscrito e o papiro criaram o ambiente social de que pensamos em conexão com os impérios da antiguidade. O estribo e a roda criaram ambientes únicos de enorme alcance. Ambientes tecnológicos não são recipientes puramente passivos de pessoas mas ativos processos que remodelam pessoas e igualmente outras tecnologias. Em nosso tempo, a súbita passagem da tecnologia mecânica da roda para a tecnologia do circuito elétrico representa uma das maiores mudanças de todo o tempo histórico. A impressão por tipos móveis criou novo ambiente inteiramente inesperado: criou o público. A tecnologia do manuscrito não teve a intensidade do poder de difusão necessário para criar públicos em escala nacional. As nações, como viemos a chamá-las nos séculos recentes, não precederam nem podiam preceder o advento da tecnologia de Gutenberg, do mesmo modo que não poderão sobreviver ao advento do circuito elétrico com o poder de envolver totalmente todo povo em todos os outros povos.
O caráter único do “público” criado pela palavra impressa esteve na intensa autoconsciência visualmente orientada tanto do indivíduo quanto do grupo. As consequências desse intenso acento visual com o crescente isolamento do sentido da vista dos demais sentidos são apresentadas neste livro. Seu tema é a extensão das modalidades visuais de continuidade, uniformidade e conexão tanto da organização do tempo quanto do espaço. O circuito elétrico não facilita a extensão das modalidades visuais em grau que de algum modo se aproxime do poder visual da palavra impressa.
A parte final desse livro — A Galáxia reconfigurada — trata do entrechoque das tecnologias elétrica e mecânica, ou da palavra impressa, e talvez o leitor ali encontre o melhor prólogo.