Arthur Lovejoy – alguns excertos de “The Great Chain of Being” (I)

Arthur O. Lovejoy. The Great Chain of Being. Cambridge, Mass., 1964

É em grande medida por causa de suas ambiguidades que meras palavras são capazes de uma ação independente como forças na história. Uma palavra, uma frase, uma fórmula que entre em voga ou ganhe aceitação devido a um de seus significados ou às ideias que sugere, e que é compatível com as crenças, padrões de valor e gostos prevalecentes em determinada época, pode ajudar a alterar crenças, padrões de valor e gostos, porque outros significados ou implicações sugeridas, não distinguidas claramente pelos que a empregam, gradualmente se tornam os elementos dominantes de seu significado.


A história da filosofia e de todas as fases da reflexão humana é, em grande medida, uma história da confusão das ideias. […] O registro adequado até mesmo das confusões de nossos antepassados pode ajudar não apenas a esclarecer essas confusões mas a suscitar uma dúvida salutar quanto a sermos totalmente imunes a confusões diferentes porém igualmente consideráveis. Pois, embora disponhamos de mais informações empíricas, não possuímos mentes diferentes ou melhores.


O fato principal é evidente. Todos nós consideramos o espetáculo da conduta humana em nossa época assustador de ser contemplado; todos concordamos que o mundo está numa confusão horrenda, e que se trata de uma confusão criada pelo homem; e não há tema de discurso público que seja atualmente mais corriqueiro do que o trágico paradoxo do espantoso avanço do homem moderno em conhecimento e em poder sobre o ambiente físico, e o seu completo fracasso até agora em transformar-se num ser apto a ser investido de tal conhecimento e poder.