Aparentemente, é a simples informação o que se explora de modo a ser beneficiado e armazenado no dar-se e propor-se da informática. Mas, enfim, o que é a informação? Uma representação, como foi visto. A informação enquanto forma representacional de tudo e qualquer coisa sobre o qual se aplica a informática é aquilo que é capaz de ser explorado. O modelo informacional-comunicacional (descrito adiante) sob o qual se representa o ente, seja este um ato ou um fato, é “processado” no dar-se e propor-se da informática, ou seja, é beneficiado e armazenado como informação ou como representação para exploração.
Como já dito e como será desenvolvido mais adiante, a informação dis-posta para exploração, é o resultado da dis-posição daquilo que a razão e a memória humanas tem de codificável em lógica e símbolos, na sua atuação objetivante dos atos e fatos. Nesta dis-ponibilidade é o próprio homem que está sendo posto para exploração, sua razão e sua memória.
“O desencobrimento que domina a técnica moderna, possui, como característica, o pôr, no sentido de explorar” (Heidegger, 1954/2002, pág. 20). Mesmo na aplicação mais simples da informática, em que ela “se dá e se propõe” como uma maquina de escrever, o texto produzido é beneficiado e armazenado sob a forma digital de um modelo informacional-comunicacional, uma representação do texto que pode assim “ser explorada” de diferentes modos. O poder de exploração destas representações cresce dramaticamente com a potencialização das tecnologias da informação e da comunicação e a expansão das redes que integram estas tecnologias numa “teia” (web) que tudo apreende e metaboliza em informação.
A dis-ponibilidade da informática atual é quase absoluta. A tecnologia como dis-positivo de representação permeia todas as atividades humanas. Sob sua regência a informação e a comunicação ganham um aspecto ímpar na sociedade moderna. A ponto de Lucien Sfez (1994) ficar em dúvida se, uma sociedade que valoriza tanto a informação e a comunicação, possa ser capaz de se informar e se comunicar.
Mas é preciso cuidado ao se enveredar por este tipo de determinismo tecnológico, afinal onde está o homem diante da técnica moderna?
Quem realiza a exploração que des-encobre o chamado real, como dis-ponibilidade? Evidentemente, o homem. Em que medida o homem tem este des-encobrir em seu poder? O homem pode, certamente, representar, elaborar ou realizar qualquer coisa, desta ou daquela maneira. O homem não tem, contudo, em seu poder o desencobrimento em que o real cada vez se mostra ou se retrai e se esconde. (Heidegger, 1954/2002, pág. 21)
No entanto, na dis-ponibilidade da informática, o desencobrimento é no mais das vezes “o eterno retorno do mesmo”, pois como afirma Heidegger (ibid, pág. 63), a essência da técnica moderna é o retorno do mesmo em uma rotação contínua que escapa ao controle do homem, mas não a sua aquiescência: “Em toda parte, o modo cunhado pela metafísica de o homem representar em proposições apenas encontra o mundo construído pela metafísica”. A representação do ente sob a forma digital do modelo informacional-comunicacional determina de tal modo o dar-se e propor-se da informática, em diferentes tipos de aplicações, que não há a possibilidade do “abrir ao chegar do desencobrir-se”, como foi dito.
Um exemplo pode esclarecer. Uma aplicação de ponta da informática é o chamado Sistema de Informação Geográfico. Mapas digitais e dados estatísticos se configuram na forma digital de um modelo informacional, para a exploração. Tanto mapas digitais como dados estatísticos se apresentam como dis-ponibilidades alcançadas por aplicações anteriores da tecno-ciência moderna. Originalmente beneficiadas e armazenadas sob a forma de um modelo informacional-comunicacional estas representações são apenas trans-formadas em um novo modelo mais adequado à exploração, por este novo tipo de sistema. Considerando o uso ostensivo deste sistema sobre esta base comum, de mapas e dados, esta nova exploração só faz se reproduzir em cada situação de aplicação do Sistema de Informação Geográfico.
Referências:
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HEIDEGGER, M.
Ensaios e Conferências. Tradução: Emmanuel Carneiro Leão; Tradução: Gilvan Fogel; Tradução: Marcia Sá Cavalcante Schuback. Petrópolis: Vozes, 2002.
Tese de Doutorado em Geografia (UFRJ, 1999)
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