Heidegger (GA41) – Essência da Verdade

Verdade: que quer isto dizer? É verdadeiro aquilo que tem validade. Vale aquilo que concorda com os fatos. Qualquer coisa concorda quando se dirige aos fatos, quer dizer, quando «toma a medida» (anmisst) tendo por base o que as coisas são. A verdade é, portanto, conformidade com as coisas. Certamente, não são apenas as verdades particulares que se devem conformar com as coisas particulares, mas a própria essência da verdade. Quando a verdade é conformidade, dirigir-se para…, isto, sem dúvida, deve, em primeiro lugar, valer para a determinação essencial da verdade: ela deve conformar-se com a essência das coisas (a coisalidade). A partir da essência da verdade como conformidade, torna-se necessário que a estrutura da verdade seja um reflexo da estrutura da coisa.

Quando encontramos, deste modo, na estrutura essencial da verdade, a mesma estrutura que na estrutura essencial das coisas, prova-se, então, a partir da própria essência da verdade, a verdade da determinação corrente da estrutura essencial da coisa.

Verdade é conformidade com as coisas, correspondência com as coisas. Mas de que modo é aquilo que se conforma? Que é a correspondência? O que é isso, que dizemos ser verdadeiro ou falso? Com a mesma «naturalidade» com que se compreende a verdade como correspondência com as coisas, resulta também a verificação daquilo que é verdadeiro ou falso. O verdadeiro que encontramos, afirmamos, divulgamos e defendemos, concebemo-lo por meio de palavras. Mas uma palavra isolada — porta, giz, grande, mais, e — não é nem verdadeira, nem falsa. Verdadeira ou falsa é sempre a ligação entre palavras; a porta está fechada; o giz é branco. A uma tal ligação em palavras chamamos um simples enunciado. Ele é verdadeiro ou falso. O enunciado é, portanto, o lugar e o sítio da verdade. Por isso, dizemos também simplesmente: este e aquele enunciado são uma verdade. Verdades e não-verdades são enunciados.