Heidegger (GA12:137-138) – método científico

As três conferências querem nos colocar na possibilidade de fazer uma experiência com a linguagem. Fazer a experiência de alguma coisa significa: a caminho, num caminho, alcançar alguma coisa. Fazer uma experiência com alguma coisa significa que, para alcançarmos o que conseguimos alcançar quando estamos a caminho, é preciso que isso nos alcance e comova, que nos venha ao encontro e nos tome, transformando-nos em sua direção.

Como se trata de uma experiência, de um ser e estar a caminho, pensemos o caminho que nos leva da primeira para a terceira conferência. Pelo fato de a maior parte dos aqui presentes lida predominantemente com o pensamento científico, cabe uma consideração preliminar. As ciências conhecem o caminho para o saber como o sentido da palavra método. Mesmo na ciência moderna, o método não é um mero instrumento a serviço da ciência. Pelo contrário. O método é que põe as ciências a seu serviço. Nietzsche foi o primeiro a reconhecer em todas as suas implicações essa situação da ciência moderna, nos apontamentos publicados sob os números 466 e 469 da Vontade de Poder. O primeiro diz: “O que caracteriza [138] o século XIX não é a vitória da ciência, mas a vitória do método científico sobre a ciência”.

O segundo começa com a frase: “As visões de maior valor são sempre descobertas por último: mas as visões de maior valor são os métodos”.

Também Nietzsche encontrou essa visão sobre a relação entre método e ciência por último, a saber, no último ano de sua vida com saúde, em 1888, na cidade de Turim.

Nas ciências, o método não apenas propõe o tema como o impõe e subordina. A corrida vertiginosa que impulsiona atualmente as ciências sem que nem elas mesmas saibam para onde estão indo, provém do incitamento do método e de suas possibilidades, cada vez mais entregues à técnica. É no método que reside todo poder e violência do saber. O tema pertence ao método.

Mas no pensamento as coisas não se passam do mesmo modo que na representação científica. O que no pensamento libera e dá a pensar não é nem o método e nem o tema, mas o campo, que assim se chama porque abre campos. Percorrendo o caminho do campo, o pensamento atém-se ao campo. Aqui, o caminho pertence ao campo. Do ponto de vista da representação científica, essa relação é não apenas difícil, mas sobretudo impossível de se entrever. Pensando agora o sentido do caminho da experiência pensante com a linguagem, não pretendemos nenhuma discussão metodológica. Já estamos andando no campo e no âmbito do que nos concerne.