A representação do “com-posto informacional-comunicacional” de razão e de memória humanas relativos a um ato ou um fato, sob a forma de algoritmos operando sobre dados simbólicos, é um modelo informacional-comunicacional. Na perspectiva da física matemática o modelo guarda certa analogia e pontos de referência com a realidade física estudada, enquanto no cognitivismo efetua-se um salto, por operações sucessivas de abstração. Embora válida a abstração em qualquer modelagem, neste caso o desígnio pragmático da abordagem cognitivista, permite falar de uma radicalização da modelagem, na medida em que o modelo é ao mesmo tempo absolutamente abstrato e interessado apenas na capacidade operativa e produtiva do que representa.
A abordagem cognitivista da modelagem pode ser entendida como seguindo estrito senso a metáfora da “caixa preta”: dados entram na caixa – suas entradas – e após certa elaboração sai um conjunto de dados – suas saídas. Não interessa o que se passa dentro da caixa, importa apenas que as entradas (algoritmos e dados simbólicos) correspondam às representações de atos ou fatos que a caixa vai mimetizar, respondendo com saídas que também representam respostas similares ao comportamento humano diante dos mesmos atos ou fatos representados.
O modelo informacional-comunicacional, enquanto abstração do engenho de representação, comporta quatro níveis como com-postos, como “bonecas russas”: o submodelo biológico, baseado nos mecanismos neurológicos que sustentam a cognição; o submodelo psicológico, baseado na modelagem dos modos de obtenção, armazenamento e recuperação de informações; o submodelo computacional, representante da reprodução de maneira algorítmica das faculdades cognitivas, segundo as premissas de que o cérebro é uma máquina de cálculo e pensar é calcular; o submodelo matemático, onde se restringe a atuação dos submodelos anteriores garantindo a conversão da competência cognitiva e, a sequência lógica de procedimentos cognitivos. Razão e memória humanas são assim transformadas segundo um modelo capaz de representá-las enquanto fatos e atos virtuais.
Toda a operação de modelagem, de construção de uma representação da razão e da memória é uma operação de simbolização destinada a criar e nomear objetos a serem tratados por esta representação. Quer dizer, que cada modelo é dotado de símbolos mais ou menos relacionados aos entes objetivados de atos e de fatos existentes fora do modelo, através de dados simbólicos. O modelo representa assim um universo com suas leis, onde o símbolo deve se comportar enquanto operado pelas funções definidas no interior do modelo, da mesma maneira que os entes representados pelos dados simbólicos.
Tese de Doutorado em Filosofia (UFRJ, 2005)