de Castro – Era da Informação – Era da Representação

A problemática da representação em si e no tocante a representação de fenômenos, através de discursos descritivos, dados quantitativos, modelos matemáticos e estatísticos, cartas e mapas, imagens de satélites, reúne por si só temas de reflexão que acumularam e ainda acumulam uma imensa bibliografia. Tanto mais pela importância, e, em grande parte, pelo natural modismo da simulação e do virtual, em uma pretensa Era da Informação, que se revela em plena sintonia com a metafísica1) dos Tempos Modernos, ou, melhor dizendo, com a Weltanschauung moderna.

Na dita qualificação informacional de nossa era, ganha um significado todo especial a problemática da representação. Primeiro, porque demanda uma maior abertura de todos os interessados na informatização da sociedade, para a necessária reflexão das questões pertinentes à representação digital de qualquer ente. É da maior importância a crítica de instrumentos como a tecnologia da informação, presumivelmente capaz de modelar e analisar os fenômenos, sob a forma digital.

Segundo, porque na própria aplicação da informática, ou seja, no dar-se e propor-se da informática sobre um engenho de representação, constata-se um estranho jogo de diferentes representações. Um jogo em grande parte análogo àquele que Foucault (1966) reconhece em sua analise do quadro Las Meninas, que efetivamente “representa o mundo das representações disposto de maneira ordenada”.

Para Foucault, neste quadro reúnem-se os principais elementos da representação: o pintor produzindo a representação, o objeto representado e a visão da representação que tem um espectador qualquer. No entanto, por um enigmático paradoxo, o quadro também evidencia a impossibilidade de se representar o ato de representação.

Ou seja, o que não é representado é justamente o sujeito unificador e unificante que posiciona e integra esses elementos da representação, os tornando objetos para si mesmo. Para Foucault, essa experiência é como um prenúncio da episteme moderna, que irá inventar e fundamentar o homem como sujeito, e, ao mesmo tempo, objeto de estudo (Dreyfus & Rabinow, 1983).

Seguindo essa rica analogia, apresentada por Foucault, verifica-se que uma aplicação qualquer da informática parece indicar também um deslocamento na fundamentação do sujeito unificador e unificante. No dar-se e propor-se da informática, é concedido ao engenho o lugar privilegiado de sujeito, na constituição da representação final, pois sob seu comando são conjugados os elementos deste dar-se e propor-se, de modo a se ter como resultado a representação que se vê na tela do engenho.

Mas isto é, no mínimo, uma tese provocante, que merece uma argumentação maior, pois poderia, quem sabe, romper em definitivo com a quimera da “inteligência artificial”, e de seu sustentáculo o engenho de representação, que se re-velaria como sintetizador de ilusões informacionais-comunicacionais. Além de por em questão a pretensa neutralidade dos instrumentos disponibilizados pela Técnica Moderna.

GA7:

HEIDEGGER, M. Ensaios e Conferências. Tradução: Emmanuel Carneiro Leão; Tradução: Gilvan Fogel; Tradução: Marcia Sá Cavalcante Schuback. Petrópolis: Vozes, 2002.

Tese de Doutorado em Filosofia (UFRJ, 2005)

DE CASTRO, M. C. O que é informática e sua essência. Pensando a “questão da informática” com M. Heidegger. UFRJ-IFCS, , 2005. Disponível em: <https://www.academia.edu/43690212/O_que_%C3%A9_inform%C3%A1tica_e_sua_ess%C3%AAncia_Pensando_a_quest%C3%A3o_da_inform%C3%A1tica_com_M_Heidegger>

  1. Em que medida isso surge da metafísica moderna? À medida que se pensa a entidade dos entes enquanto vigência para a representação seguradora. Entidade é agora objetividade. A questão da objetividade, da possibilidade de oposição (a saber, do re-presentar que assegura e calcula) é a questão da possibilidade de conhecer. (GA7:64