E quanto à técnica moderna, vale esse resgate do sentido original grego? Certamente que sim, pois a técnica moderna ainda guarda parte deste sentido. Seria uma falácia, segundo Heidegger, interpretar a técnica moderna como algo de totalmente novo, assentado na moderna ciência exata da natureza. Mesmo a constatação da interdependência entre ciência e técnica, não diz nada “a respeito do fundo e fundamento em que se baseia esta dependência recíproca”.

A técnica moderna é também um desencobrimento, que não se desenvolve porém numa pro-dução no sentido de poiesis. “O desencobrimento que rege a técnica moderna é uma exploração que impõe à natureza a pretensão de fornecer energia, capaz de, como tal, ser beneficiada e armazenada”1.

Trata-se de uma nova “posição que dis-põe da natureza”, ou como denominado anteriormente tratam-se de dis-posições e dis-positivos de exploração. “Esta dis-posição, que explora a energia da natureza, cumpre um processamento, numa dupla acepção. Processa à medida que abre e ex-põe.” Estabelece-se, portanto, uma cadeia de pré-dis-posições, dis-posições e dis-positivos que percorre um ciclo indefinido de exploração, armazenamento e processamento de tudo que tocam em seu caminho.

“O desencobrimento que domina a técnica moderna, possui, como característica, o pôr, no sentido de explorar.” O ciclo percorre a extração, transformação, armazenamento, distribuição, reprocessamento, como modos de desencobrimento. Um desencobrimento assegurado por controle e segurança, marcas indeléveis do desencobrimento explorador.

“Em toda parte, se dis-põe a estar a postos e assim estar a fim de tornar-se e vir a ser dis-ponível para ulterior dis-posição. O dis-ponível tem seu próprio esteio”2. Existe, portanto, uma experiência moderna do desencobrimento: um desencobrimento que provoca a natureza a liberar o que possa ser tratado e acumulado para exploração.

A dis-ponibilidade designa esta categoria, este modo em que vige e vigora tudo que o desencobrimento explorador atingiu. “No sentido da dis-ponibilidade, o que é já não está para nós em frente e defronte, como um objeto.”

Segundo Heidegger, cabe aqui uma crítica a Hegel por não pensar a máquina a partir da essência da técnica. “Considerada como disponibilidade a máquina não é absolutamente autônoma e nem se basta a si mesma. Pois tem sua dis-ponibilidade exclusivamente a partir e pelo dis-por do dis-ponível”3.


  1. HEIDEGGER, Martin. Ensaios e Conferências. Trad. Emmanuel Carneiro Leão, Gilvan Fogel e Marcia Sá Cavalcante Schuback. Petrópolis: Vozes, 2002, pág. 19 

  2. ibid, pág. 20 

  3. ibid, pág. 20 

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