Na obra de Heidegger, o pensar sobre a questão da técnica abre sentidos e desígnios, cujo entendimento pressupõe um “ser capaz” para tal. Para sustentar a “questão da informática” é preciso mais que um saber, é preciso um ser capaz de manter esta questão viva. O desafio da questão não está apenas no entendimento da meditação encaminhada por Heidegger, da essência da técnica enquanto com-posição1 (Ge-stell) e metafísica da Modernidade, mas em ser capaz de enfrentar esta questão diante do próprio predomínio da técnica moderna.
Mas a pergunta nunca chega tarde e atrasada se nos sentirmos propriamente, como aqueles, cujas ações e omissões se acham por toda parte desafiadas e pro-vocadas, ora às claras ora às escondidas, pela com-posição. E sobretudo nunca chega tarde e atrasada a questão se e de que modo nós nos empenhamos no processo em que a própria com-posição vige e vigora. (Heidegger, 1954/2002, pág. 27)
Como diz um provérbio chinês, “uma longa jornada inicia-se com um primeiro passo”. Assim, o primeiro passo dado para compreender e responder a questão “o que é a informática?”, será a investigação da natureza desta técnica, da tecnologia da informação. Dessa natureza cuja vigência2) se encontra velada pelo deslumbramento ordinário com seus propalados prodígios.
A questão sobre a essência da técnica vai orientar esta caminhada como um farol indicando a passagem segura, porém a questão sobre a natureza da tecnologia da informação vai ocupar os passos iniciais em sua direção. Natureza entendida no sentido do conjunto de condições originais latentes na informática, emergentes na vigência da tecnologia da informação.
Em todo o site, enfatiza-se a brilhante tradução do Prof. Carneiro Leão dos termos baseados no radical “stell”. ↩
É do verbo “we-sen“, viger, que provém o substantivo vigência. Wesen, essência, em sentido verbal de vigência, é o mesmo que “wahren“, durar e não apenas no sentido semântico, como também na formação fonológica. Já Sócrates e Platão pensaram a essência de uma coisa, como a vigência, no sentido de duração. (HEIDEGGER, Martin. Ensaios e Conferências. Trad. Emmanuel Carneiro Leão, Gilvan Fogel e Marcia Sá Cavalcante Schuback. Petrópolis: Vozes, 2002, pág. 33 ↩